Last Night In Soho (2021)

de Rafael Félix

Há um ano atrás houve quem dissesse que Tenet (2020) vinha salvar o cinema. Por Veneza tem-se dito que Dune (2021) veio salvar o cinema na era pós-covid. São respostas válidas, mas incorretas. Last Night in Soho, o novo filme de Edgar Wright, sobre uma jovem provinciana que chega a Londres pela primeira vez e como que por magia se vê transportada para a vida noturna da Londres dos anos ‘60, é, sem grandes dúvidas, o filme que vem salvar o cinema.

Edgar Wright traz novamente o seu estilo alucinante e cheio de entusiasmo mas desta vez a trabalhar num género diferente. Last Night in Soho é assumidamente um thriller de terror que nos faz sentir nostálgicos por um tipo de filme que cada vez temos menos.

O realizador de Scott Pilgrim vs. the World (2010), rejeita os tons mais neutros e escuros a que o género de terror nos vem habituando e enche o ecrã de luz, cor e saturação, transportando-nos para as noites de Soho na companhia da jukebox recorrente dos filmes de Wright.

O filme agarra em referências ao cinema de Polanski ou de Dario Argento, mas cria a sua própria estética e ambiente, misturando as linhas da realidade e do sonho, criando um mundo sem regras claras em que tudo é possível, desde uma Anya Taylor-Joy a dançar nos anos ‘60 e uma Thomasin McKenzie a ser assombrada pelas recordações violentas de uma cidade com memória nas suas paredes.

A co-argumentação de Krysty Wilson-Cairns traz também a todo este caos temporal uma linha que une as duas eras através de uma jovem rapariga que é apresentada a um tempo que esta imaginava de sonhos e oportunidades, mas que na verdade contém exatamente os mesmos horrores misóginos na cidade que ela encontra quase 50 anos depois.

Adicionar alguma substância ao seu estilo único, assim como o facto de estar pela primeira vez a lidar com protagonistas femininas, são apenas mais alguns passos na carreira de um realizador que continua a evoluir com cada filme, e Last Night in Soho beneficia imenso disso.

Cheio de entretenimento, música, cor, diversão e terror, o novo filme de Edgar Wright é uma aventura singular e que nos agarra desde a primeira à última canção.

Ah, e para quem acha que o destaque é Anya Taylor-Joy, está enganado. Thomasin McKenzie sim, uau!

4/5
0 comentário
2

Related News

Deixa Um Comentário