“People love what other people are passionate about.”
La La Land é um filme sobre sonhadores, um comentário ao cinismo e à dureza com que os sonhos são esmagados pela sociedade, uma carta de amor ao cinema, à música, a Los Angeles e a todos os que arriscam e que tentam fazer com que os sonhos se tornem realidade.
Damien Chazelle confirma as suas qualidades como jovem realizador, depois de surpreender com Whiplash (2015), e a genialidade da parceria com o seu antigo colega de quarto, Justin Hurwitz, que trabalha como compositor ao lado de Chazelle em todos os seus filmes, com mais um filme onde a música surge como o seu motor principal. Ambos fãs de musicais clássicos como Les Parapluies de Cherbourg (1964), têm em La La Land a oportunidade de entregar um musical nostálgico mas moderno que se tornou um clássico instantâneo.
La La Land leva-nos numa viagem até uma Los Angeles moderna através do brilho da Era de Ouro de Hollywood, o Cinemascope, as vinhetas e a forma como as personagens se vestem misturam-se com iPhones e piadas sobre Prius de uma forma engenhosa sem distrair o espectador, se no início podemos ficar na dúvida se é um filme retro ou não, essa duvida deixa de ser relevante rapidamente e mergulhamos no escapismo criado pelos seus belos e longos planos pintados pelo crepúsculo a cair sobre as luzes da cidade.
O filme abre com um espetacular número musical no famoso trânsito de L.A. que nos faz lamentar qualquer tipo de road rage no trajeto para o trabalho e apresenta-nos Mia e Sebastian, as personagens principais protagonizadas por Emma Stone e Ryan Gosling que acompanhamos na sua tentativa de vingar em Hollywood. Mia sonha tornar-se uma atriz de sucesso e Sebastian quer manter o verdadeiro Jazz vivo e abrir o seu próprio clube. Claro que no momento em que se conhecem estão longe de o alcançar, Mia salta de audição em audição e trabalha num café dentro de estúdios de cinema enquanto Sebastian faz pequenos gigs para subsistir e tenta encontrar uma forma para abrir o seu próprio clube. Os dois acabam por se apaixonar um pelo outro mas também pelos sonhos de cada um; o romance romântico está muito bem representado ao longo da história e a química entre os atores é contagiante, a beleza deste amor está refletida no filme como na lindíssima cena no Planetário que representa perfeitamente o momento em que nos apaixonamos com um toque mágico quase ao estilo Disney.
No entanto, o amor não é a única coisa romantizada neste filme, para além de seguirmos o desenvolvimento da sua relação acompanhamos estas personagens na sua viagem pessoal para se tornarem quem querem ser. La La Land desenrola-se num universo alternativo onde trabalhar num café é suficiente para pagar as contas e basta acreditar e persistir para conseguir vencer, onde se põem de parte as carreiras e se privilegiam os sonhos e que deixa millennials a fantasiar ou à beira de um ataque de nervos.
“Why do you say ‘romantic’ like it’s a dirty word?”
A narrativa desenrola-se ao longo das estações do ano que servem para marcar os diferentes momentos da história onde conseguimos ver a tensão que existe entre a sua ambição e o pragmatismo mudar ao longo delas. Acompanhamos a evolução das personagens e da sua relação e vemos como mudam e se adaptam à medida que se vêm confrontados com a realidade daquilo que querem e o que é possível alcançar, o desfecho pode parecer subversor mas acaba por ser necessário e traz-nos não só a dose de realismo necessária para o filme como mantém o sonho vivo.
A fotografia de Linus Sandgren é um dos pontos mais fortes do filme e é crucial para criar este mundo de sonho. Filmado numa, quase permanente, magic hour e uma grande prevalência de tons roxos ajuda-nos a entrar neste mundo onírico. O filme é marcado pela escolha de uma paleta cromática vibrante enfatizada pelo trabalho em conjunto com os departamento de arte e guarda-roupa que permite espelhar a visão do realizador e manter um forte ênfase nas cores primárias fiel às suas referências de musicais clássicos.
Musicais e histórias de amor podem fazer revirar os olhos de muitos mas La La Land transcende o género e é capaz de agradar a gregos e a troianos, satisfazendo tanto quem aguarda ansiosamente pelo próximo musical mas também quem não se identifica tanto com o género, entregando 128 minutos de uma experiência cinematográfica imaculada que deixa os espectadores com o sorriso nos lábios, uma lágrima no canto do olho e uma banda sonora para ouvir durante muitos anos.