Kubo and the Two Strings está integrado na programação da 25ª edição da MONSTRA | Festival de Animação de Lisboa, na secção de Retrospectivas e Homenagens – Sessão Laika, cuja sessão ocorre dia 30 de Março às 17h00 no Cinema São Jorge.
Os estúdios Laika abençoam as salas de cinema desde 2005 mas foi em 2009 que nos presentearam com a sua primeira longa-metragem, Coraline (2009), que dispensa apresentações. Com o sucesso constante das suas produções, a decisão de se dedicar exclusivamente a longas-metragens, facto que aconteceu em 2014, produziu, desde a sua fundação, cinco longas-metragens. A escolha da técnica de stop-motion não ajuda na velocidade com que estas obras-primas nos são presenteadas mas cada vez que surge o nome Laika é impossível não o associar com a alta qualidade na sua animação e empenho dos seus criadores.
Enquanto esperamos pela próxima produção recordamos uma das mais amadas pelos público, Kubo and the Two Strings, que acompanha um menino chamado Kubo (Art Parkinson), um músico dotado e um excelente contador de histórias, afetado por uma estranha maldição que não lhe permite viver a sua vida em pleno. Parte então em busca de uma armadura e espada lendária que lhe permitam derrotar um espírito maligno e assim recuperar o tempo perdido.
Os estúdios Laika são como uma caixa de chocolates, nunca sabemos bem o que vai sair de cada uma das suas produções. Uma verdadeira caixa de surpresas a que este Kubo não é excepção. Não é de hoje o meu fascínio pela técnica de stop-motion por revelar um trabalho minucioso e de atenção ao pormenor. E, claro, de uma paciência descomunal de todos os envolvidos, em criar algo pessoal e impossível de ser replicado por qualquer animação na forma digital. Desde os primeiros fotogramas ficamos logo rendidos a esta viagem, de clara inspiração asiática mais precisamente de histórias populares nipónicas, que queremos que dure para sempre. Ao unir as milenares artes de origami e da música tradicional japonesa, Chris Butler tem ainda o condão de, no seu argumento em conjunto com Marc Haimes e Shannon Tindle, infundir a história com algo muito pessoal e universal, o amor de uma mãe pelo filho. É esse sentimento universal de pertença e de comunhão, que a narrativa escolhe centrar-se, que torna este filme em mais uma vitória para o estúdio. A isto alia-se um fascínio pelo passado riquíssimo da cultura japonesa e a necessidade primordial de ancorar a história numa simplicidade tocante e muito próxima do espectador. Tudo receitas para o sucesso.
O grande destaque, no entanto, tem de ser dado ao brilhante trabalho de fotografia, sempre a um pequeno sopro da perfeição, principalmente nas sequências em que música e animação se fundem com o origami e criam algo tão belo e único que nunca é menos que verdadeiramente emocional. Mesmo com as opções menos acertadas do desenvolvimento da história e os inevitáveis e previsíveis twists, perto do final, tudo é perdoado tal o deleite visual com que brinda o espectador. Para ver no maior ecrã possível como forma de potenciar esta experiência ao máximo. Também o casting de voz nem sempre parece funcionar, demasiado refém de um tempo em que a fama muitas vezes ultrapassa o talento vocal, e onde apenas o estreante Art Parkinson, que empresta a voz a Kubo, parece sempre em comando da sua personagem. Talvez seja um preciosismo e um esmiuçar exagerado, o apontar destes defeitos, mas tal só é possível quando a qualidade é tão elevada que os pontos menos positivos destoam do que nos é apresentado.
Kubo and the Two Strings é a estreia fulgurante de Travis Knight e mais uma vitória retumbante dos estúdios Laika. Unindo tradição da animação e do folclore japonês com a modernidade e simplicidade de um argumento escorreito como seu porta-estandarte é, no entanto, na sumptuosidade e apuro visual que conquista o espectador. Os pecados esses existem mas não há outra solução senão o perdão. Obrigatório para amantes de animação.