Muito tempo e pouca ação.
Km 224, o novo filme de António-Pedro Vasconcelos, vem apresentar-nos a história de Mário (José Fidalgo) e Cláudia (Ana Varela), um casal que atravessa um processo de divórcio conflituoso, marcado pela disputa de guarda dos dois filhos Mateus (Gonçalo Menino), de 5 anos, e Francisco (Sebastião Matias), de 6 anos.
A longa-metragem segue uma linha autoral que o cineasta já nos tem vindo a habituar ao longo dos anos. Um filme com um lado mais comercial, com atores conhecidos do público, e com uma componente de entretenimento muito vincada.
A base da história é sobre um assunto já falado diversas vezes, porém, a forma como é apresentada é relativamente cativante. O que é explorado é o lado dos filhos, e como estes podem ser diretamente afetados pelas atitudes inconscientes dos pais. É interessante perceber como é que duas crianças podem reagir durante um processo de divórcio. A questão surge com o background dos pais. Os problemas são os mesmos de sempre. De um lado, alguém que trabalha demais, e do outro, alguém que leva tudo na brincadeira. Apesar de haver uma tentativa para não criar posições, existem muitos estereótipos inerentes à criação destas personagens que torna a história aborrecida.
Tirando as personagens principais, o restante elenco acrescenta pouco à linha de pensamento, havendo um destaque maior para Lia Gama, no papel de avó Graça, e Joana Africano, no papel de Sara (namorada de Mário).
Outra questão importante de referir está relacionada com a montagem. Em primeiro lugar, o filme é demasiado longo. Mais de duas horas chega a ser exagerado para a história que está a ser contada. O filme podia perder 30 a 40 minutos, dado que há diversas cenas sem particular propósito e que seriam dispensáveis em prol do ritmo. Uns exemplos destes momentos são aqueles compostos apenas por música e personagens a dançar. Possivelmente o objetivo seria dar espaço ao espetador para respirar, mas a ideia passou completamente ao lado.
Para além disso, há também uma ausência de fluidez na montagem. Há muitos cortes de emoção, cenas que entram do nada e momentos sem ação. Há uma cena, por exemplo, em que Cláudia está a falar com a mãe sobre o seu casamento. O espetador apercebe-se que há um crescendo na emoção e que a personagem começa a perder aquela barreira de ferro que impõe a si própria, mas do nada há um corte e o momento fica a meio.
Falta também um fator surpresa que nunca aparece no filme. Há um ou dois momentos inesperados, mas que não são suficientes para surpreender a audiência.
Todos estes factores acabam por fazer com que Km 224 perca o espetador. Não por ser mau, mas por não ser nada de mais. É apenas mais um, no meio de tantos outros. Poderia ter sido mais do que realmente é, mas para isso seria necessário um aperfeiçoamento da composição e disciplina no argumento. Uma história mais curta, mais direta, e com um final mais lógico seria uma melhor aposta. Não foi o caso.