Chegou ao fim a trilogia que pretendia revitalizar o nosso fascínio por dinossauros no grande ecrã, com três tentativas frustradas, e mais preocupante que isso, com a única a aproximar-se do objectivo a ser a primeira.
Quatro anos depois da destruição da ilha Nublar, dinossauros chegam à civilização e ameaçam obrigar a uma readaptação da vida humana em que Homem e dinossauro aprendem a viver juntos. Porém, há interesses de corporações com poder, que podem complicar ainda mais esta equação e arriscar a extinção da nossa espécie no planeta.
Sim, a primeira parte do resumo de Jurassic World Dominion até soa a algo com potencial, mas a segunda soa a algo enfadonho, pouco original e em última instância desinteressante, e infelizmente é esta segunda parte que prevalece no enredo deste último capítulo do universo Jurassic World. O argumento volta a ser um dos calcanhares de Aquiles do filme, sendo que temos que pensar em dinossauros para encontrar o número certo e tamanho de calcanhares de Aquiles nesta longa, repito longaaa-metragem. A ênfase no “longaaa” não é um erro, ou melhor, foi claramente um erro optar por uma edição de quase 2 horas e meia de um filme sem sumo para 2 horas sequer. O facto de ser o último não significa que tenha que ser mais longo, porque depois o que se vê é um desequilíbrio total entre cenas plenas de acção e outras que não fosse o som bastante alto na sala de cinema e acabaríamos por adormecer, quebrando o ritmo do que até podia ser um filme popcorn razoável, apesar de nunca poder ser muito bom por lhe faltar o ingrediente especial, mas já lá vamos.
O elenco é um “meter a carne toda no assador”, temos as faces desta nova geração jurássica, e voltam três nomes fortes do Jurassic Park (1993): Laura Dern, Sam Neil, e Jeff Goldblum. Uma nota extra para Mamadou Athie que tem um papel fundamental no desenrolar da história no papel de Ramsay, e apesar de não lhe ser dado muito a que se agarrar para tornar a personagem inesquecível – aliás ninguém tem, porque a escrita não permite -, tem aqui uma oportunidade num filme com projecção, e pessoalmente fico feliz por ver um actor que começou a aparecer há pouco tempo, que tem bastante potencial e que mesmo com uma pandemia pelo meio está a conseguir fazer o seu caminho. Aconselho a conhecerem melhor o seu valor em Archieve 81 (2021).
Ora, Owen (Chris Pratt) é suposto ser o Indiana Jones/James Bond que sai sempre ileso e salva sempre o dia, mas as cenas em que isso acontece são notoriamente forçadas, e depois de três filmes ficou só o gesto no primeiro (que é repetido sempre que possível no segundo e terceiro filmes) de controlar Velociraptors com uma mão. A sua relação com Claire (Bryce Dallas Howard) é inexplicavelmente pouco ou nada explorada neste filme, perdendo um dos poucos pontos de referência com o coração que Jurassic World tanto precisava. Alan (Sam Neil) e Ellie (Laura Dern) voltam e com algum tempo de antena é verdade, mas sem que isso represente propriamente uma boa notícia, isto porque a dinâmica tendencionalmente cómica que se tentou criar entre os dois simplesmente não resultou, não por acaso, mas por obra mais uma vez da inexistência de ferramentas no argumento para construir o efeito desejado. Oportunidade desperdiçada de criar nostalgia pelo regresso destas personagens.
Um parágrafo à parte, porque é um elemento à parte nisto tudo, diria mesmo na sociedade e na vida, é Jeff Goldblum. Não que a escrita para ele tenha sido muito melhor do que para os restantes, mas há um carisma e uma autenticidade em Mr. Goldblum que mesmo que tivesse que dizer um texto de uma criança de 6 anos, conseguiria tornar as palavras apelativas. Para qualquer outro actor tirar os óculos depois de uma frase enigmática seria cheesy e até embaraçoso, feito por Jeff Goldblum é classe. Não tem provavelmente nenhuma explicação científica, e nem é preciso, é sentar e apreciar o entretenimento puro que é este homem, independentemente de nunca se distinguir muito a pessoa/actor da personagem. Quanto mais tivesse ele aparecido, melhor teria sido o resultado final.
Isto leva-me para o tal ingrediente especial de que tinha falado em cima. A intenção obviamente era boa, serem 2 horas e meia épicas, um epílogo memorável que contivesse tudo o que associamos ao mundo jurássico, desde personagens, acção, a dinossauros clássicos esfomeados, que aliás, estão extraordinariamente bem conseguidos! Pode apontar-se o dedo a muita coisa em Jurassic World Dominion, mas à competência do departamento de efeitos visuais não, nunca pareceu tão real a existência de dinossauros na actualidade (drinking game em casa, beber de cada vez que lêem a palavra “dinossauros”… e toca a beber). O problema é que fazer um bom filme não é fácil, e fazer um bom blockbuster de um tema já gasto e reutilizado não é pêra doce, até porque em boa verdade nem as primeiras tentativas de reproduzir o patamar alcançado em Jurassic Park foram bem-sucedidas. Mesmo com Steven Spielberg mais próximo, The Lost World (1997) e Jurassic Park III (2001) ficaram muito aquém das expectativas. A diferença entre um blockbuster que resulta e um que não resulta, não está na quantidade de monstros e sequências de proporções bíblicas que existem, está na ligação afectiva que temos para com as personagens e por consequência com as circunstâncias que encontram e determinam o plot. E aí sim, explosões, perseguições, lutas titânicas de dinossauros acrescentam algo. Sem coração, o batimento do filme dentro de nós liberta aquele “piiiiii” perpétuo que informa que alguém deixou de respirar.
É pena que a extinção dos dinossauros tenha chegado também ao cinema, pelo menos até nos esquecermos deles e surgir alguém louco o suficiente para apostar num remake do original. Ian (Jeff Goldblum) a certa altura diz “Jurassic World? Não sou fã.”. Eu quis muito contrariar essa conclusão… mas tenho mesmo de fazer minhas as suas palavras.
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