A palavra de ordem é: Esperar! Esperar, esperar e esperar mais um bocado. Porquê? Poucos parecem saber, mas eles estão ali, porque eles estão ali, porque eles estão ali. Realizado por Saul Dibb, Journey’s End conta a história de um grupo de soldados – comandados por Stanhope (Sam Claflin), um capitão que tenta segurar a sua saúde mental com uma garrafa de whisky – que esperam pelo seu destino numa trincheira em Aisne, durante a Primeira Guerra Mundial.
Este filme, apesar que por breves segundos, traz à tona um interessante acontecimento que se passou na Primeira Guerra Mundial, quando um grupo de Tommy’s começaram a cantar a famosa canção de Ano Novo “Auld Lang Syne”. Uma música que por si só já tinha um significado poético, porém, os soldados decidiram adaptar a letra para um simples “We’re here because we’re here” – daí a forma pela qual decidi introduzir esta crítica. Uma ironia à moda britânica, mas que marca a frustração de milhões que morreram e que viram morrer numa guerra que se prolongou de tal forma, que chegou a um certo ponto em que já não se sabia a razão daquele conflito.
O tempo é o inimigo da ansiedade e Saul Dibb, sabendo isso, constrói a narrativa quase como se de um filme de terror se tratasse, tanto no silêncio de cortar o fôlego, como na construção do imaginário do inimigo invisível e no sentimento construído do iminente ataque. O medo é trabalhado em diferentes níveis, pois, como a audiência tem o conhecimento prévio dos factos que se desenrolaram naquela frente, Journey’s End permite-se gastar mais tempo a construir aqueles personagens para fazer com que o público sinta que tem algo a perder.
A nossa simpatia é captada pela diversidade de personalidades ali presentes. Uns mais bem-humorados, outros visivelmente mais traumatizados, outros ainda sem saber muito bem onde se meteram e no meio também temos aqueles que, apesar de já terem visto muito, talvez por ainda estarem em negação ou por uma simples automanipulação mental conseguem permanecer, dentro dos possíveis, sãos. O interessante é que o passado de cada personagem é representado de forma subtil e quando não o é, é feito de uma forma que se justifica a exposição. Em momento algum fica a sensação de que o filme precisa de explicar as suas escolhas para ganhar pontos. Um perfeito exemplo é quando Raleigh (Asa Butterfield) procura por Stanhope, amigo de infância, e no caminho se cruza com Osborne (Paul Bettany) que afirma, com um sorriso acolhedor que talvez o capitão que iria encontrar ali não seria a mesma pessoa que o jovem soldado conhecera em Inglaterra. Uma simples fala que é o suficiente para substituir uns cinco minutos de diálogo que um artista menos talentoso usaria para explicar o quanto este personagem tinha mudado.
A fotografia também é impecável, explorando e elevando à máxima potência a claustrofobia que se fazia sentir naquelas trincheiras. A sujidade e o desconforto são palpáveis, e o perigo é desconcertante quando um dos soldados se vê obrigado a espreitar ou a passar por uma zona menos protegida, principalmente quando o faz para ir buscar algo tão trivial como pimenta para os oficiais poderem temperar as suas sopas.
Journey’s End é um ótimo filme e um dos melhores no que toca a demonstrar o esforço físico e o desgaste psicológico que acarretava a vida nas trincheiras e a ansiedade daqueles que tiveram que estar à espera do veredicto que o destino aguardava.