O cinema de terror sempre proporcionou um passo de entrada para diversos realizadores na sétima arte. Persiste uma liberdade criativa neste género que permite a artistas de mergulharem nas suas estranhas ambições e nos seus conceitos visuais abstratos, enquanto exploram a sua identidade artística nestas obras, com uma segurança firme no potencial financeiro do medo. Nomes celebrados marcam a sua presença através de sangue, gritos e escuridão pois o horror é uma promessa de destaque em Hollywood. Naturalmente, este espaço onde predomina uma oportunidade de arriscar e falhar, isenta de consequências drásticas, apela a novos criadores. Afinal, no terror, até os fracassos recebem entusiasmo.
Patrick Wilson, um dos atores mais subvalorizados da atualidade, com um sorriso charmoso irresistível, posiciona-se como realizador neste quinto capítulo da saga Insidious, que regressa às suas origens com a família que iniciou esta franchise. The Red Door decorre uma década depois dos eventos de Insidious: Chapter 2 (2013), seguindo a pós-destruição dos Lamberts, destroçados com um divórcio e o distanciamento físico e emocional de Josh (Patrick Wilson) perante a sua família. Apesar das suas memórias apagadas – uma tentativa de recomeçar e cessar as suas habilidades de projeção astral – Josh e o seu filho, Dalton (Ty Sympkins), abrem, involuntariamente, as portas do seu passado, revelando demónios enterrados e segredos escondidos.
Inicialmente, cada capítulo intencionava explorar novas histórias e criaturas, demonstrado em Insidious: Chapter 3 (2015) e Insidious: The Last Key (2018), mantendo somente o título, a equipa de investigadores e o mundo do Longínquo: um espaço entre a morte e a vida. Um objectivo substituído pela decisão de encerrar a história principal e criar uma futura spin-off situada neste mundo, intitulada Thread: An Insidious Tale. Possivelmente devido à consciência que o investimento da audiência residia mais nos Lamberts do que no conceito de projeção astral entre entidades nefastas.
Independentemente de opiniões alheias, é impossível negar que Insidious (2010) revitalizou o cinema de terror comercial durante uma fase de narrativas desprovidas de inspiração, povoadas por jumpscares defuntos, personagens detestáveis e péssimos remakes de obras internacionais e de clássicos. James Wan e Leigh Whannell combateram essas escolhas aborrecidas ao elaborar personalidades emocionalmente apelativas; reverter clichés genéricos; e criar uma história onde o medo supera gritos temporários e o drama narrativo evoca o terror. Um sucesso atingido através de um cineasta visionário cuja ambição ultrapassa o orçamento minúsculo, e um argumento intrigante. A sua imagem final, acompanhada pelos toques musicais brilhantes de Joseph Bishara, provocou pesadelos.
A dedicação artística desta primeira longa-metragem desvanece neste capítulo, arrasando a crença em Patrick Wilson como um possível auteur ou um cineasta com fascínios peculiares, estilo Anthony Perkins em Psycho III (1986), uma sequela também realizada pelo protagonista. Infelizmente, Patrick Wilson não é James Wan. Ou Leigh Whannell. Aliás, é complicado compreender a sua visão como realizador; ou sequer se esta existe. The Red Door é limitado pelas suas decisões cautelosas e restringido por truques habituais do género, perdendo, assim, o seu visual distinto, a sua criatividade e o seu ambiente tenebroso. Aliás, esta conclusão aparenta um desinteresse em desenvolver uma atmosfera arrepiante (apesar de incluir rostos medonhos repentinos com gritos musicais); colocando a sua atenção no drama familiar.
É uma história sobre trauma. Sim, outra obra de terror acerca de trauma. “Que original! Chamem a Jamie Lee Curtis!”. Diretamente ou indiretamente, múltiplas narrativas neste género exploram trauma. Nesta franchise, é uma consequência inevitável para uma família que vivenciou um marido/pai possuído por um espírito maligno, enlouquecido com desejos homicidas. Como ultrapassar essa experiência? É neste espaço temático que Patrick Wilson destaca-se como realizador, exibindo uma paciência incomum no horror comercial para produzir momentos onde a audiência simplesmente existe com as personagens. A sua aptidão manifestada na devoção que fornece ao elenco; puramente observando um pai e um filho a conversar; permitindo que as performances comuniquem o essencial.
O investimento na viagem emocional dos seus protagonistas é comum em todos os capítulos de Insidious e realça os filmes dos seus contemporâneos. Contudo, o argumento de Scott Teems (a sua primeira entrada nesta saga) aplica-se excessivamente a estabelecer informação, durante os primeiros dois actos, que o espectador já possui antes dos créditos iniciais sequer terminarem. A exposição domina a emoção. Um trilho teoricamente compreensível numa história sobre como as consequências de eventos traumáticos persistem mesmo sendo apagados das memórias (uma porta aberta ignorada permanece uma porta aberta), todavia este conceito interessante é ofuscado pela pobre execução e alguns diálogos pouco naturais. É importante para as personagens mas não para a audiência; perdendo-se na repetição e numa build-up desapontante para um climax apressado e visualmente desconexo.
Os instantes arrepiantes, que envolvem uma simples troca de mensagens, um jogo de memória e um exame de ressonância magnética incrível que prende o espectador com o protagonista, equilibrando o design de som intenso com o silêncio misterioso para amplificar a sensação de claustrofobia, são seguidos por contradições visuais que substituem o medo por jumpscares momentâneos. Esta adversidade impede a criação de suspense duradouro, de uma atmosfera pesada, e de um eficaz percurso narrativo para as personagens.
Inconsistente é a definição de The Red Door; as suas ideias superam a própria história, cujo potencial exibido em cada sequência é danificado pela edição insegura e por um argumento que abandona direções cativantes, como a relação entre trauma e identidade na arte – visualizada no jovem universitário, que descobre nas suas imagens ansiedades desconhecidas – ou como o trajeto pela relação pai e filho, ao separar as personagens principais em subenredos com a amizade entre Dalton e Chris (Sinclair Daniel), e a procura de Josh pelo seu passado para compreender o seu presente. São rumos que debilitam o impacto sentimental desta conclusão e, por esse motivo, é complicado deduzir a visão de Wilson, além de uma intenção em desafiar-se como artista, pois diversos elementos técnicos atraiçoam os aspectos singulares, e porque as passagens aborrecidas negam o seu objectivo emocional.
Insidious: The Red Door abrange ideias fascinantes que carecem de um argumento polido e de um cineasta experienciado o suficiente para mergulhar na sua visão tresloucada. Sinto esperança que este primeiro passo de Patrick Wilson na realização implique um conforto em aventurar-se criativamente nos seus próximos projectos. Existem obras audiovisuais cujo potencial desperdiçado evoca raiva, outras cuja reação é de tristeza, enquanto algumas simplesmente conjuram desapontamento e aceitação. Aceito as diversas falhas de Insidious: The Red Door devido à paixão que tenho por esta saga e por este capítulo encerrar a história dos Lamberts. Aceito, consciente do grandioso final emocional que permanece escondido atrás da porta.