Um tenente britânico, Archie Hicox (Michael Fassbender), um grupo de soldados americanos judeus liderados por Aldo Raine (Brad Pitt), uma famosa atriz alemã, Bridget von Hammersmark (Diane Kruger), e Shosanna (Mélanie Laurent), uma mera judia, cruzam caminhos com um único objetivo: matar nazis!
São poucos aqueles que conseguem apresentar uma história com tantas reviravoltas, e Quentin Tarantino é uma dessas pessoas. Inglourious Basterds está aqui para confirmar isso. É uma história com tantos agentes a influenciar a narrativa principal, que seria fácil cair na previsibilidade, facilitismos e algumas incoerências. No entanto, as coincidências que vão surgindo nunca soam forçadas. São aqueles momentos improváveis que alteram a trajetória da narrativa, mas sem nunca perder a plausibilidade, o que cria um certo ânimo e desespero, até mesmo nos mais simples dos diálogos ou gestos.
A tensão é uma constante, principalmente nas cenas que envolvem Hans Landa, um oficial nazi interpretado na perfeição por Christoph Waltz. A sua inteligência, carisma e até uma certa gentileza, tornam a sua personalidade incrivelmente macabra, considerando o seu ofício. Parece que Landa está seguro e ciente do destino de cada conversa, e que as interações não passam de simples golpes de tortura psicológica, quase como se se tratasse de um predador a brincar com a presa. Tarantino compreende a presença desta personagem e espreme o máximo que pode destas cenas, usando muitos close-ups e enfatizando muito os sons próximos, como o barulho de alguém a comer ou a cortar comida.
O mais interessante desta obra ocorre no segundo ato, que se divide em dois, quase como se de dois filmes se tratasse, mas encaixa-se perfeitamente no terceiro. O tom que Tarantino usa no desenvolvimento do arco de Shosanna é completamente diferente daquele usado durante o desenvolvimento dos bastardos. No primeiro, o realizador carrega no drama; já no segundo, pende mais para a comédia. A tensão, apesar de existir sempre nos dois, tem propósitos diferentes, uma vez que, no primeiro caso, o objetivo é criar agonia e, sobretudo, medo. Já no segundo, a intenção, apesar de também brincar um pouco com o receio do destino dos personagens, é mais de entretenimento. Isto porque, provavelmente, o arco de Shosanna se aproxima mais da realidade, enquanto os basterds, apesar de aparentemente serem baseados muito levemente num grupo que realmente existiu, servem mais como uma liberdade poética para Tarantino fazer o que quer com a sua história e o destino dos seus personagens, sem se arriscar a cair na falta de sensibilidade ou mau gosto.
Inglourious Basterds é uma obra de arte fenomenal. Um filme com uma história que escreve imprevisibilidade em cada esquina. Uma realização que prima por manipular as emoções da audiência, ao deixar as cenas se estenderem ou dando uso a cortes dinâmicos que apresentam um caos, mas, acima de tudo, perceptível e com sentido.