O casal James (Alexander Skarsgård) e Em (Cleopatra Coleman), passam férias num resort exclusivo de uma ilha paradisíaca, afastado da população e com segurança máxima. Quando conhecem Gabi (Mia Goth) e Alban (Jalil Lespert), que os convencem a conhecer a ilha fora do resort, percebem estar num local onde os limites da perversão, decadência e imoralidade são testados e ultrapassados.
Brandon Cronenberg, na sua terceira longa-metragem, depois de Anti-Viral (2012) e Possessor (2020), continua a seguir as referências que o têm tornado numa nova esperança no terror mundial, claramente inspirado no trabalho do seu pai, David. Infinity Pool segue o trend actual de explorar o mundo dos ricos, os seus vícios, a decadência que os rege e os limites da sociedade que não se aplica a quem tem dinheiro para “jogar o jogo”.
Após um início morno, onde a tranquilidade reina, Brandon procura estabelecer o seu mundo de prazer e de provocação. Entra Mia Goth, no papel de Gabi, e os dados estão lançados. Misturando sedução, desespero e uma aura de ameaça subtil que vai escalando com o filme, Goth mais do que confirma o estatuto de “scream queen” do momento. É uma estrela sem medo da transgressão e de testar constantemente os seus próprios limites do que lhe é confortável – como disse na conferência de imprensa sobre o filme. Do outro lado temos James, interpretado por Alexander Skarsgård, a única personagem mutável da história. No início é um homem derrotado, mas Gabi acaba por transformá-lo no verdadeiro símbolo deste poder de viver para além da morte. A corrupção do seu “eu original” acaba por actuar como a cura para o homem abalado pela vida, que vemos ao início do filme.
O objectivo de Brandon Cronenberg é desequilibrar-nos e criar uma sensação de vertigo em que o chão não é o que parece. Isto é evidente na realização de Brandon, que encontra soluções originais para o fazer, com particular destaque nas sequências onde as personagens usam drogas alucinogénicas e há a criação de um ambiente psicadélico, com o uso inteligente de luzes em diversas formas, prismas ou outras formas recortadas por diferentes cores, alternando com corpos nus e imagética de terror. A própria transição para a sobriedade é feita de forma subtil e reforça essa perda de consciência, também para o espectador. Já o conceito da “Infinity Pool” ficou subaproveitado em termos do argumento, mas especialmente em termos visuais, que pedia um trabalho mais apurado de cenografia, reforçado o que pretendia transmitir.
Brandon Cronenberg continua a explorar os limites do terror numa fábula sobre a vida como um fenómeno descartável. Divisivo, transgressivo e polémico, significa que não agradará a todos mas a indiferença não reina aqui. Quem reina é Mia Goth – God save the queen.
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