In the Summers (2024)

de Flora Lopes

“In childhood they are your heroes, in adulthood they are your pain.” 

O cinema é um espelho de experiências e realidades e aqui, Alessandra Lacorazza traz-nos isso mesmo em 90 minutos, provando que a educação que os filhos recebem nem sempre se repercute nas suas escolhas, mas que o amor recebido – ou a falta do mesmo – é fulcral e molda os seres humanos em que nos tornamos.

In the Summers retrata os verões de Eva e Violeta, passados em Las Cruces, Novo México, em casa do pai divorciado. Retrato este que segue não só as particularidades desta família de 3 elementos, mas carrega em si todas as idiossincrasias das comunidades que engloba. Vicente (Residente), inicia-se – neste filme divido em quatro partes – empenhado em reconquistar o amor das filhas após um divórcio que permanece tabu. Mas tudo desmorona quando deixa o alcoolismo vencer e as suas prioridades e comportamentos mudam. A raiva ocupa o espaço da ternura e o desinteresse leva a cabo agressões e a queda de laços familiares outrora felizes.

É desolador crescer com Violeta e Eva, interpretadas por actrizes diferentes conforme o progresso da história. É dilacerante acompanhar o seu crescimento, da infância à idade adulta nesta hora e meia. A constante autodescoberta com o acréscimo da incessante busca por aprovação e atenção paterna, enquanto tentam não sucumbir à tragédia que é viver na incerteza, na insegurança e no medo, não só de estarem aquém das expectativas do pai, mas descobrir que ele não é o homem que tinham no pedestal, é consternador.

Nunca traduzindo as falas em espanhol, a realizadora permite-nos navegar por bem mais que dramas familiares. Temas como aceitação, sexualidade e superação estão presentes mesmo após o filme terminar e culminam com a intenção de que, mesmo não partilhando um passado, cultura ou estrutura familiar semelhantes, as nossas vivências, relações e dores são comparáveis em determinados momentos nas nossas vidas.

Com estreia no Sundance Film Festival, onde Alessandra viu a sua primeira longa-metragem ser galardoada, a mesma não hesita em revelar-nos cruamente traumas familiares. Não descuidando o processo de cura que parte da aceitação e de reconhecer que os nossos pais não são super-heróis, são apenas humanos que estão a fazer o melhor que sabem com o que conseguem nas circunstâncias que lhe são possíveis. In the Summers é um murro na barriga dado por alguém que queremos muito e nos sorri enquanto o projeta: é lento, quente, doloroso e agridoce, mas que deixa a sua marca por bem mais tempo do que aquele que a dor nos permite sentir.

4.5/5
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