Se formos otimistas, podemos acreditar que está a acontecer, perante os nossos olhos, a era do Renascimento de Adam Sandler e acho que todos nós ganhamos com isso. Hustle é mais uma razão para acreditar nisso depois do tremendo papel num barulhento e frenético Uncut Gems (2019), ainda que o presente filme não viva no mesmo planeta que a peça dos Safdie. Nem tenta. Nem o deveria tentar.
Sandler é Stanley Sugerman, olheiro dos Philadelphia 76ers encarregado de encontrar a pérola que falta à equipa para poder lutar pelo título da NBA. Esta procura leva-o a Espanha onde encontra Bo Cruz (Juancho Hernangómez), um trabalhador da construção civil com um talento especial para o basquetebol, mas sem experiência profissional para ter sequer uma oportunidade de integrar as captações dos 76ers. Isto leva Stanley a abandonar a equipa e treinar Cruz, ele mesmo, para lhe conseguir um lugar nos try-outs que antecedem o draft do início da época.
A verdade é que não há um pingo de originalidade em Hustle. Nem um. No entanto, é talvez por isso que resulta.
É um filme que permite adivinhar cada passo da narrativa sem qualquer tipo de dificuldade e que faz exatamente aquilo que se espera que faça em cada frame. O modelo de filme de desporto é uma máquina bem oleada e experimentada que quando liderada por líderes carismáticos, sejam eles Samuel L. Jackson em Coach Carter (2005), Kevin Costner em Field of Dreams (1989), ou neste caso, Adam Sandler num dos seus papéis mais intensos e calculados dos últimos anos, pode facilmente esconder a previsibilidade por baixo de um manto de emotional beats familiares mas sempre certeiros.
A história do underdog contra o sistema que o esmaga é uma receita infalível e quando a juntamos a atores carismáticos como Sandler, Hernangómez e até, espante-se, Kenny Smith, com uma pitada muito interessante de cenas de treinos, jogos de basquetebol e montagens tão inundadas em suor que deixariam Stallone orgulhoso, Hustle torna-se numa tarde/noite mais que bem passada em família, principalmente para fãs de basquetebol ou da NBA. O desfile de estrelas como Trae Young, Shaq, Nowitzki, Anthony Edwards ou o próprio Hernangómez – atualmente jogador dos Utah Jazz – é sinal da produção ter o nome de LeBron James associado e em vez de distraírem da trama central, em prol de momentos forçados para colocar caras conhecidas à frente da câmara, estas acabam por ser usadas de forma algo orgânica para dar uma boa dimensão de realidade a estes subúrbios do melhor campeonato de basquetebol do mundo.
Não reinventa a roda, é demasiado longo e tem um terceiro ato incrivelmente atabalhoado em termos estruturais, mas o carisma e o charme que grita do ecrã é demasiado grande para ignorar. É mais engraçado e carinhoso que a maioria das “comédias” que Sandler vai lançando pelo streaming e tem uma história clássica de um miúdo sem nada a ganhar uma oportunidade de dar uma vida melhor à sua família enquanto o seu treinador procura redenção de uma carreira que falhou. Já vimos isto antes, certo. Mas se calhar só mais esta, pode ser?