Os tempos de pandemia foram difíceis para a indústria cinematográfica mas, ainda assim, resultaram desse período filmes como Host, que encontraram alternativas e até inspiração nas dificuldades. O filme realizado por Rob Savage utiliza a distância física entre as personagens como vantagem, marcando a diferença para os habituais filmes de terror que juntam um grupo de amigos a convocar um espírito. Host criou um impacto tão mais forte do que outras longas-metragens do género, que está inclusive nos primeiros lugares de vários estudos que listam os filmes mais assustadores com base nos batimentos cardíacos dos espectadores. E tudo isto em menos de uma hora!
Em pleno confinamento seis amigos decidem criar um evento via zoom que os tire da monotonia. Com a orientação de uma medium, cedo percebem que não respeitar o que não entendem pode custar-lhes muito caro.
São já alguns os exemplos que revelam que com pouco se consegue muito, tanto no retorno financeiro como na qualidade final. Paranormal Activity (2007), It Follows (2014), Saw (2004), representam bem essa ideia. Host vai buscar vários pormenores a Paranormal Activity, a câmera amadora, pessoas e objectos que se movem sem que consigamos ver nada, assustar mais pelo que não vemos do que pelo que vemos. Na verdade, esse é um “truque” que traria grandes benefícios a muitos filmes com orçamentos chorudos dentro do género terror. Sim, The Nun (2018) e companhia, estou a falar de vocês! Há muitas situações em que menos é mais no cinema, e creio que cada vez mais se prova que este é um desses casos. O medo vem do desconhecido, do que não compreendemos, da nossa imaginação, que ultrapassa em larga escala a realidade. Isto é aplicável à nossa vida no geral, ao nosso quotidiano, a ansiedade cresce quando a imaginação trabalha em prol de uma projecção do futuro, não percebendo o nosso corpo que essa projecção não é real. Reproduzir essa sensação de medo por aquilo que pode acontecer num filme, tem muito maior eficácia quando não sabemos com o que estamos a lidar, é mais forte do que nós vermos, ouvirmos e sentirmos algo a cada esquina da imagem que vemos e a cada respiração. Rob Savage é inteligente na forma como faz crescer exponencialmente a sensação de impotência das personagens em resolver o problema criado pelos próprios.
Nada é feito com a intenção de nos deixar de boca aberta com uma grande reviravolta no enredo, ou uma explicação super elaborada do que se está a passar, o objectivo passa pura e simplesmente por nos deixar desconfortáveis, com muito respeitinho pelo paranormal, e com medo de fazer uma reunião zoom à noite. Isso é conseguido, de forma directa, nos seus cerca de 56 minutos. Claro que há um ou outro momento típico de um filme de terror, em que damos por nós a gritar para a personagem não ser totó, mas de qualquer forma não belisca o que seria sempre o desfecho da trama. Desfecho esse que não é o ponto mais forte da história, talvez seja até o aspecto que pudesse sofrer mais mudanças com o intuito de aprimorar a experiência. Os principais jumpscares e o apogeu do susto, ocorrem um pouco antes da cena final.
Com uma duração que o aproxima mais a um episódio longo de uma série do que um filme pequeno, é uma sobremesa de terror condensado que se fosse maior enjoava, se quisesse ter muitos mais ingredientes perdia a essência do seu sabor, e provavelmente se tivesse sido feito com mais dinheiro iria ter tendência para se aproximar de todas as banais sobremesas de terror. Assim sendo, é um sólido bom filme num dos géneros que maior criatividade tem demonstrado nos últimos anos, e mais realizadores, argumentistas e actores tem revelado.
Como última nota, mas não menos importante, dizer que o elenco é pequeno, mas que consegue cumprir com o que se lhe é pedido, destacando que com pouca margem de manobra em termos físicos, tendo em conta que praticamente acontece tudo com eles sentados, todos são credíveis no seu crescendo de crença no que os assombra naquela noite, e mantêm características próprias na reacção à adversidade que os distinguem uns dos outros, o que não deixa de ser também um elogio à escrita do argumento.