Havoc (2025)

de Antony Sousa

Luzes, câmera, acção! Havoc tem tudo isto, mas sobretudo acção. Com Tom Hardy a liderar as operações, nem sempre é fácil acompanhar as ramificações da criminalidade exposta na trama, todavia sabemos que a mesma vem acompanhada de bastante violência e sequências longas de tiroteios e pancadaria.

Um ajuste de contas resultante de negócios ilícitos que não foram bem-sucedidos, leva o detective Walker (Hardy) numa corrida contra o tempo para encontrar Charlie (Justin Conrnwell), filho de um político influente e corrupto, e dessa forma mudar o propósito da sua vida para a família. Pelo caminho enfrentará surpresas que desafiam a sua lealdade e trazem à superfície erros do passado.

Mais uma “moedinha” da Netflix, mais uma voltinha numa produção com uma estrela como protagonista e um enredo com o q.b. para haver o pretexto de realizar o filme. A fazer lembrar Extraction (2020), por seguir a mesma lógica, e por ter como ponto forte cenas de acção complexas bastante bem executadas, só perdendo num ponto fundamental: na ligação emocional com a história. Tom Hardy cativa-nos como habitualmente com o seu carisma, presença imponente e imprevisibilidade nas escolhas que faz para cada momento, porém, apesar de ter costas largas não pode carregar tudo sozinho. A lente do filme foca inicialmente na relação sofrível de Walker com a paternidade, o que nos confere de imediato o objectivo da personagem, de ser melhor pai e alterar o rumo da sua vida. O problema é que o investimento nessa ligação emocional do detective acaba no seu princípio. Deixamos de ter presente qual a verdadeira motivação por detrás de tanto risco assumido por aquele homem e, a certo ponto, com tanta informação nova que nos é atirada para os olhos, até perdemos o fio condutor que nos dá aquela vontade de torcer por um final feliz. Ficamos só de pipocas nas mãos a ver o que acontece a seguir na teia de conspirações criada.

Ainda assim, há que realçar o extraordinário trabalho da equipa de duplos, com coreografias elaboradas e intensas, privilegiando o entretenimento. Realizadas com minúcia por Gareth Evans, com o preponderante auxílio de Matt Flannery, director de fotografia, as sequências de acção são a grande aposta do filme, procurando misturar um estilo que navega entre John Wick (2014) e o já referido Extraction. Combina diferentes elementos de luta, variadas armas, movimento da câmera, ritmo coerente, música como aliada na sensação de estarmos no espaço a viver aquela experiência, e liberdade para mostrar o sangue que sente que precisa de mostrar.

Além de Mr. Hardy, o elenco conta com alguns nomes facilmente reconhecíveis, destacando-se entre eles Timothy Olyphant e Forest Whitaker. Apesar dos actores à disposição, as suas respectivas personagens são pouco exploradas, no caso de Vincent (Olyphant) não existindo qualquer arco, mantendo-se numa linha recta de início ao fim, e no caso de Lawrence Beaumont (Whitaker) não havendo o espaço necessário para o arco que se verifica ser credível e, acima de tudo, que importe para o espectador.

Havoc vai de encontro a quem pretende passar o tempo sem grande preocupação a ver mortes de diversos tipos e um arsenal de alternativas para como executar essas mesmas mortes. Não irá tanto de encontro com quem procure uma história que chegue com a mesma proporção ao coração e aos olhos. E está tudo certo. Só não decidiu ir por aí, preferindo alargar a densidade dos conflitos mais superficiais. São opções.

3/5
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