Green Room (2015)

de Antony Sousa

Uma banda punk dá um concerto num local hostil que acaba por se tornar num beco sem saída quando encontram uma pessoa assassinada nos bastidores.

Está lançado o repto para um thriller intenso, sem lugar a tempos mortos e com interpretações muito sólidas. Quentin Tarantino confessou-se um grande apreciador deste filme e percebe-se porquê, é visível que o realizador e argumentista Jeremy Saulnier tem como referência Reservoir Dogs (1992) em particular e o gore credível muitas vezes presente nas obras de Mr. Tarantino, no geral. A premissa é simples, quase toda a trama ocorre num só local e em noventa minutos não assistimos a nenhuma pirueta estonteante nos acontecimentos, ainda assim somos sugados para o realismo da situação de pura sobrevivência deste grupo de amigos. Não há qualquer tentativa de os tornar mais puros ou mais fáceis de gostar, sabemos pouco sobre qualquer um deles, apenas somos confrontados com a claustrofobia de um grupo de pessoas que está fechado numa sala de espera da morte.

Provavelmente uma das razões mais fortes para Green Room cumprir com o que promete é ter também como antagonistas pessoas sem escrúpulos, mas apesar disso, sem todas as certezas, sem todo o controlo da operação, o que por vezes encontramos nas personagens bidimensionais em histórias do género. Patrick Stewart, à cabeça com o seu Darcy, personifica isso mesmo e surpreende, num registo pouco visto no experiente actor. Darcy é calculista, manipulador, creepy, cobarde e inteligente. Todas as nuances estão lá, disponibilizadas pelo actor britânico. No entanto, há outro actor que passará mais despercebido e que faz igualmente um trabalho muito meritório e porventura mais difícil, de seu nome Macon Blair! Comunica muito sem necessitar de falar; as suas acções são censuráveis, porém a sua consciência pesa-lhe e não tem nenhum momento de explosão ou particular destaque para conseguir alcançar este patamar de excelência. Fá-lo através da consistência e minúcia na personagem que criou, no seu monólogo interno. Está num contexto propício aos valores mais conspurcados e ainda assim questionamo-nos sobre a sua profundidade e princípios, se afinal serão assim tão maus quanto se imaginaria.

O restante elenco está claramente à altura, das mais pequenas participações aos protagonistas. Nestes últimos destaco Anton Yelchin, o saudoso actor que apesar de ter partido muito cedo, deixou um legado digno de ser visitado e revisitado. Imogen Poots que em 2015 estava em altas, ajuda a elevar o nível das interpretações, com opções diferentes e imprevisíveis em algumas cenas.

Green Room é um dos bons exemplos de filmes capazes de nos prender a atenção sem recurso a grandes espalhafatos, nem a enredos demasiado elaborados. Consegue o feito de não tornar óbvio o que vai acontecer a seguir e de nos fazer desviar os olhos com a dureza do gore enquanto não conseguimos deixar de olhar para o destino da banda que estava no sítio errado na hora errada.

4/5
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