A eterna questão feita às nossas crianças/jovens: o que queres ser quando fores grande? O que queres fazer do teu futuro? Ou outras variações da mesma questão. A passagem da juventude à idade adulta é um período de muitas inquietações, questões, medos e, acima de tudo, de incerteza. Os adultos têm sempre uma ideia do que querem por parte da juventude e, apesar de dizerem que são livres de escolher, nem sempre ou raramente os deixam optar sem influenciar. É a isto que o trio de realizadores (Pietro Marcello, Francesco Munzi e Alice Rohrwacher) procura responder com Futura. Durante o ano de 2020, viajaram por Itália em busca da juventude deste país e questionaram-lhes sobre o futuro. O que esperam, como o veem e, acima de tudo, como o sonham.
Esta seria sempre uma tarefa hercúlea, mesmo com três realizadores ao comando: o de fazer um retrato da juventude italiana e em que seria necessário fazer opções de continuidade. Daí a estrutura simplista do documentário, em que as mesmas perguntas são feitas a jovens de diferentes classes sociais, locais, cultura, religião e educação. A inevitabilidade desta opção leva a uma óbvia repetição na estrutura do filme, com múltiplas entrevistas seguido de imagens do local onde se encontram e da vida dos entrevistados revelando a preferência do lado documental em detrimento do artístico.
Este facto tem pontos positivos, por permitir uma boa variedade de respostas no espectro dos jovens italianos e de mostrar os diversos pontos de vista de uma juventude que os adultos menosprezam, mas na qual já está presente o tecido social do futuro do país. “Somos da maneira que crescemos” e isso é bem visível no debate criado entre os diversos campos opostos – Campo vs. Cidade, Religioso vs Agnóstico, Interventivo vs Acomodado e Rico vs Pobre. Estende-se ainda àqueles que escolheram fazer do país o seu, pois também a eles cabe o futuro de Itália, neste que é um mundo cada vez mais diversificado e rico, por essa mesma razão.
O que o filme também mostra, de um modo geral, é a insatisfação dos jovens italianos, a desilusão, a falta de opções e um medo comum do que o futuro lhes reserva. Estes são pontos repetidos inúmeras vezes e indicadores do estado atual de Itália. A imigração e o estrangeiro são vistos como a única saída, bem reminiscente do que se passou em Portugal nos tempos de crise e levam a um aumento no fluxo de pessoas para melhores paragens. Não há receio de ser político e de mostrar o que está mal nas decisões infelizes de um sistema em crise constante e, no passado, muitas vezes glorificado, mas onde, claramente, (pelas imagens mostradas pelo menos) não está a solução.
Um evento não planeado, mas com grande impacto em Futura, é a pandemia de COVID-19 a começar durante o período de filmagens, que provoca uma grande mudança nos comportamentos e no estado de espírito dos jovens. Verdadeiramente assustador ver a mudança nas expressões que os tempos de isolamento e de grande stress emocional provocaram em todos os entrevistados. Surge uma maior sinceridade nas respostas e nos sentimentos demonstrados e na crescente desilusão de não verem um futuro para Itália, tornando este capítulo particularmente difícil de assistir.
No fim, há claramente um simbolismo do desejo de Marcello, Munzi e Rohrwacher em haver um elo de ligação entre jovens e adultos. São eles o futuro e, inquestionavelmente, a última hipótese de salvar o planeta Terra. Os três realizadores conseguem criar um documento de grande valor e, também ele, de grande futuro. Questiona-se como serão estes jovens em vida adulta e abre-se a possibilidade de voltar ao mundo de Futura. Esperemos estar cá para assistir à sequela, daqui a 20 anos.