“Que será, será / Whatever will be, will be / The future’s not ours to see / Que será, será / Whatever will be, will be.”
Um ano e cinco meses após a estreia da segunda temporada, somos novamente consumidos pelo enigma sinistro que constitui o cenário intrigante da subestimada série de terror e ficção científica From, da MGM+, criada por John Griffin. A cada temporada, este mystery box show revela um sentido de direção cada vez mais sólido e claro em termos de narrativa, alcançando uma crescente popularidade, pelo que já foi renovada para uma quarta temporada, a estrear em 2026.
From segue a história de uma pequena cidade que mantém “emprisionados” todos os que acidentalmente nela entram, onde os habitantes procuram incessantemente por uma saída, sendo obrigados a sobreviver às ameaças da floresta que os rodeia – as criaturas grotescas e sádicas que os atormentam assim que o sol se põe – e outros mistérios obscuros.
A 3ª temporada começa onde a anterior terminou, com Tabitha (Catalina Moreno) num hospital noutra cidade que não aquela onde estava presa, indicando que conseguiu escapar para o “mundo real”, pelo que lhe aguardam várias surpresas. Em contrapartida, Boyd (Harold Perrineau Jr.) e Donna (Elizabeth Saunders) continuam a tentar manter a calma dos moradores enquanto todos enfrentam novos terrores instalados na cidade e revelações inesperadas.
Esta temporada foca-se muito na evolução das personagens, no que toca à forma como a cidade as consegue manipular e as moldar em pessoas diferentes, levando-as a extremos, fazendo o espectador sentir-se cada vez mais conectado e apegado às mesmas. O enredo centra-se, maioritariamente, na gravidez de Fatima (Pegah Ghafoori) e as suas respetivas implicações, o que se revelou crucial no desenvolvimento da história, contudo, a personagem acabou por se tornar um pouco cansativa e azucrinante.
Adicionalmente, somos presenteados com uns dos momentos mais horrendos na história da série. Os novos desafios que os moradores da cidade têm de enfrentar, entre falta de recursos e a evolução eminente dos monstros, contribuem para as cenas de morte e tortura mais intensas desde a primeira temporada, solidificando o quão pior a situação se pode tornar caso os habitantes não encontrem saída. Neste sentido, verifica-se que optar por mais practical effects em vez de CGI para as criaturas foi a decisão certa e, além disso, experiencia-se uma atmosfera mais densa e medonha como consequência da predominância de cenários com cores escuras e frias.
Outro aspeto de destaque é o facto da série ter cada vez mais uma abordagem de terror psicológico. O que cria este sentimento de ansiedade e temor na audiência não é só o aspeto visual do terror, mas também a dimensão psicológica que acarreta, resultante do novo e mais evoluído modus operandi de tortura das criaturas, que realmente eleva o medo em From a um nível vertiginoso e claustrofóbico. Deste modo, o que mantém os habitantes “motivados” é o mesmo que mantém os fãs interessados na série. Tem ainda a sensibilidade para dar esperança e momentos heartwarming entre as personagens, suficientes para parar com a violência e desespero por um segundo, antes de se voltar à desumana brutalidade, criando uma bagagem emocional asfixiante.
É imprescindível mencionar as belíssimas performances de todo o elenco, que elevam substancialmente a série, especialmente de Harold Perrineau Jr., que capta com exímia a essência de Boyd na sua luta interna constante pelo bem da comunidade – por vezes pouco apreciada – enquanto enfrenta os seus próprios demónios, oscilando constantemente neste pêndulo emocional. Aliado a si, também observamos atuações bastante íntimas de Scott McCord como Victor, Elizabeth Saunders como Donna, Catalina Moreno como Tabitha e Ricky He como Kenny, alcançando um nível de emoção visceral que não tinha sido visto até ao momento, incluindo Robert Joy como Henry, a nova adição ao elenco, que oferece uma dinâmica díspar e empolgante, aprofundando o mistério.
A terceira temporada de From consegue ser mais aterrorizante e sufocante que nunca, e permite-nos ter um maior insight sobre como funciona o estranho e sobrenatural nesta realidade paralela à nossa. Apesar de alguma lentidão inicial em obter respostas aos mistérios e às constantes perguntas colocadas em cima da mesa – tornando a história um pouco confusa e com várias pontas soltas -, os últimos episódios são mais esclarecedores, o que também motiva e estimula o público a continuar a acompanhar From.
Enquanto audiência, preocupamo-nos com as personagens e queremos vê-las a conseguir desvendar e escapar deste pesadelo, aguardando impacientemente por respostas. Assim, é fácil seguir a série por qualquer caminho obscuro por onde nos queira levar, não importa quão tenebroso. Contudo, é importante ter sempre em mente, como a música de introdução de cada episódio nos diz, que as personagens se calhar não têm assim tanto controlo sobre o seu destino como pensam, e o que tiver de acontecer, acontecerá.