Qualquer obra acerca de Frida Kahlo, desde que realizada com dedicação e zelo, nunca poderá ser infeliz. A vida de Frida é tão fascinante e cheia de cor que consegue suportar qualquer passo em falso. É um pouco isso que acontece em Frida: Viva la Vida, realizado por Giovanni Troilo – não é um grande filme, mas também não é particularmente fraco.
Fica claro que Troilo dispunha de uma visão apaixonada e ambiciosa para este documentário, fica claro também o seu respeito e admiração para com Frida e a sua obra. No entanto, numa tentativa de açambarcar demasiados conceitos, o realizador acaba por prejudicar a coesão do filme. Junta diferentes narradores, diferentes tipos de imagens de arquivo, representações de Frida em variadas formas, imagens dos seus quadros explicadas ao pormenor, imagens de vários museus, e entrevistas a um sem fim de especialistas. Até a própria estrutura do filme é difícil de precisar.
Ainda assim, como tudo o que se estranha com tempo se entranha, o espectador rapidamente se adapta à “desarrumação” do filme e, com algum esforço, se abstrai para mergulhar no mirabolante e apaixonante mundo de Frida Kahlo.

“As Duas Fridas”, Frida Kahlo, 1939
O principal fio condutor de Frida: Viva la Vida talvez seja uma divisão binária da persona de Frida Kahlo, baseada no seu mais célebre quadro “As Duas Fridas”. O filme dispõe, ao longo de toda a narrativa, de duas atrizes distintas a fazer de Frida. A primeira, muito mais sóbria, apresentada sempre a preto-e-branco e fechada em casa, com uma aparência eurocêntrica, representa a forma corpórea de Frida, prisioneira da falta de saúde física resultante de um acidente que sofre em nova. A segunda, de aparência indígena, vive num mundo exterior a cores, nas vibrantes florestas e ruínas mexicanas – representa a forma espiritual de Frida, livre, o epicentro da sua arte. Estas duas representações subjetivas de Frida evoluem à medida que o filme narra a complicada vida da artista, funcionando como um apêndice visual e dramático do restante formato altamente expositivo do filme.
Troilo oferece-nos um documentário informativo, ainda que de uma forma descomprometida, sem nunca assumir um ponto de vista crítico sobre a vida de Frida e mantendo uma confortável ambiguidade política – privilegiando, assim, talvez, uma objetividade agradável a qualquer audiência.
Os momentos mais bem conseguidos acabam por ser as explicações das variadas obras de Frida, narradas solenemente pela atriz italiana Asia Argento. É fascinante poder dissecar os motivos por trás das pinturas mais emblemáticas da icónica artista do século XX, e explorar as ligações destes aos acontecimentos da sua vida. A dor física e emocional, a cultura mexicana, a rejeição da modernidade e uma amálgama entre vida e morte, luz e escuridão, que coexistem num pêndulo entre harmonia e conflito, são os principais temas de uma obra extensa que só poderá deixar indiferentes os pobres de espírito.
No final de contas, Frida: Viva La Vida triunfa pelo simples facto de escolher apresentar uma Frida Kahlo “alegre”, que adorava “mariachi, tequila e a vontade de viver”.