Fountain of Youth (2025)

de Antony Sousa

Guy Ritchie habituou-nos a filmes ousados, desafiantes, com ritmo elevado e com toques humorísticos refinados. A sua última aposta não pode ser totalmente dissociada dessas características recorrentes, no entanto, fazem-se notar as ausências da ousadia e desafio para o espectador. Isso é lacuna que baste para que esta aposta da Apple TV+ fique a meio do trilho para ser um novo nome de referência do realizador britânico.

Dois irmãos há muito afastados reencontram-se para uma aventura que pode levá-los até à muito desejada fonte da juventude. Luke (John Krasinsky) procura colocar o nome da família no mapa, enquanto que Charlotte (Natalie Portman) balança entre ser uma mãe presente e voltar a sentir entusiasmo pela jornada que têm pela frente. Owen Carver (Domhnall Gleeson), um homem muito rico, é quem patrocina esta busca pela vida eterna. Os segredos que se escondem na procura pela glória podem colocar em perigo todos os que a procuram, até porque quando toca a poder, o ser humano tem tendência para perder o equilíbrio nas decisões.

O género de aventura não vive porventura os tempos mais prolíferos, e nesse sentido Fountain of Youth é uma oportunidade para nos sentirmos nostálgicos e pensarmos em ver National Treasure (2004) ou The Mummy (1999) pela oitava vez. Contudo, aí reside o principal problema do filme, tanto na preguiça no enredo que nos é apresentado, como a comparação com os exemplos do género que nos ocorrem. É inegável que contém entretenimento sem pausas, preenchendo o seu tempo de forma competente, através de personagens centrais carismáticas, constantes obstáculos colocados aos mesmos e sequências de acção bem realizadas, mas usa uma receita que só resulta em pleno se tiver todos os ingredientes. Faltando o molho especial da descoberta, da surpresa a cada esquina que nos envolve na história até querermos estar com estas pessoas independentemente dos perigos que enfrentam, fica só uma aventura que é mais enfatizada pela constante repetição da palavra no discurso de Luke do que pelo que vivenciamos nas acções das personagens.

John Krasinsky lidera o objectivo de chegarem todos à fonte da juventude com charme, carisma, bom timing de comédia e um pouco das habilidades que Jack Ryan (2018-2023) lhe conferiu. Apesar de Luke ser o previsível “herói/anti-herói”, que tem bom coração mas nem sempre toma as melhores decisões, a verdade é que é fácil simpatizar com ele. Mérito da entrega de Krasinsky ao papel. Natalie Portman complementa na perfeição este duo cão e gato, funcionando como o elemento céptico que obriga os restantes a explicar o que vai acontecer a seguir, para o caso de algum de nós se perder pelo caminho. Não é um papel tão vistoso, mas Natalie Portman carrega consigo toda a experiência e habilidade necessárias para acrescentar camadas à sua Charlotte. O restante elenco vê os seus desempenhos maioritariamente ofuscados, sem grande espaço para desenvolvimento, exceptuando Domhnall Gleeson no último acto.

Em suma, Fountain of Youth ganha com o cunho pessoal de Guy Ritchie, todavia, não o suficiente para ter a sua marca de água. Resulta em duas horas de bom entretenimento, sem grande sumo, ainda assim sem baixar do nível razoável. É evidente o plano para expandir o projecto para um universo de sequelas, resta saber como o público vai reagir e como quem investiu bom dinheiro no filme vai reagir a essa reacção. Por este princípio, é viável continuar a aventura, com um asterisco: arriscar mais!

3/5
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