Finch é a nova adição ao catálogo da Apple TV+, realizado por Miguel Sapochnik e protagonizado por Tom Hanks e Caleb Landry Jones.
Num futuro distópico, Finch (Tom Hanks), um homem solitário, constrói um robô, Jeff (Caleb Landry Jones), com o único objetivo de cuidar do seu cão quando a altura de partir, chegar. Durante a sua viagem pelo Oeste Americano, Jeff aprende sobre a vida, amizade e um pouco sobre aquilo a que chamamos de humanidade.
Apesar de não ser inovador, Finch consegue explorar o lugar comum de uma forma muito própria e emocionante. Filmes com um plot que envolve uma relação entre um humano e um robô não são propriamente uma novidade mas mesmo contando com alguns aspetos repetitivos do género e um argumento que força um pouco a suspensão da descrença, a previsibilidade dos acontecimentos surge de forma natural e torna-se difícil reagir negativamente, porque o pano de fundo é bom. Finch navega entre o lado positivo do drama e do melodrama, desenvolvendo de forma competente as personagens principais e estabelecendo desde cedo as suas limitações como o desconhecimento do mundo, por parte de Jeff e a débil saúde de Finch, que enaltece as relações criadas pelo trio. A composição musical de Gustavo Santaolalla enche o ambiente com tensão e ajuda a potenciar esta carga dramática nos momentos certos.
O CGI usado para construir Jeff, foi feito de uma forma tão extraordinária que em certos momentos esquecemos que são efeitos visuais. O ator interpreta esta personagem com um trabalho de voz incrível, impedindo de se tornar demasiado irritante através do seu tom mais ingénuo, que acaba por acrescentar à história um sentimento de leveza que carrega a audiência até à sua conclusão.
O argumento baseia-se muito no conceito de aproveitar o momento, sem uma narrativa complexa ou uma ameaça temível, aliás, este é o seu ponto mais fraco pois quando tenta apresentar alguma forma de advertência, para além do cenário pós-apocalíptico, ou quando tenta explicar a maneira como a sociedade consegue viver nesta realidade e como atingiu esta situação, acaba por se desconectar completamente do enredo e de se sobressair como superficial, servindo apenas para a audiência situar-se na história.
A troca de olhares que a personagem de Tom Hanks estabelece com o seu cão, muitas vezes soam a longos diálogos refinados e a sua frustração perante a inexperiência de Jeff demonstram a dedicação de Finch para atingir o seu objetivo de deixar o seu companheiro animal em boas mãos. Estes aspetos associados à química e performances dos atores, permitem criar um laço de amizade forte e revisitar histórias e decisões do passado.
Finch não tem muito a adicionar ao género, nem se propõe a explorar a fundo a questão da humanidade, crescimento, amizade e amor, contudo, consegue criar uma narrativa leve, divertida e com uma carga emocional forte. É certamente um filme que peca pela falta de originalidade, mas sucede como um road movie que convida a audiência a juntar-se a Tom Hanks e refletir um pouco sobre o que nós somos, mesmo que não vá mais longe com isto.