Final Destination: Bloodlines (2025)

de Bruno Sant'Anna

Final Destination (2000-2025) tornou-se uma franchise icónica no universo do terror ao introduzir uma estrutura narrativa que, na altura do lançamento, era surpreendentemente original. Cada filme começa com uma longa e meticulosa sequência de tragédia – onde assistimos, em detalhe, à morte brutal de cada uma das personagens principais. Esta escolha choca o espectador logo de início e prende a atenção. Quando percebemos que alguns conseguem escapar graças à premonição de um dos protagonistas, até conseguimos criar empatia e torcer pela sua sobrevivência. Mas rapidamente a violência escala e somos confrontados com mortes engenhosas, imprevisíveis e, por vezes, verdadeiramente perturbadoras (como a cena do solário no terceiro filme, ainda hoje difícil de esquecer).

A proposta inverte de forma inteligente os clichés dos slashers tradicionais. Aqui, o assassino não é uma figura mascarada nem uma entidade com forma humana – é a própria Morte, uma força impiedosa e invisível que tenta restaurar o equilíbrio quebrado. Essa ausência de um inimigo palpável intensifica a sensação de vulnerabilidade. O perigo pode surgir em qualquer lugar, a qualquer momento. Protagonistas desaparecem sem aviso, sobreviventes enlouquecem sob uma perseguição constante, e ninguém está verdadeiramente a salvo. É uma série que nunca teve pena das suas personagens – e foi precisamente essa ousadia que a tornou tão marcante.

Contudo, após alguns filmes criativos, a saga começou a repetir-se. Os capítulos quatro e cinco caíram numa fórmula desgastada, apostando mais no exagero do que na tensão genuína. As mortes tornaram-se demasiado caricatas, os argumentos previsíveis e as interpretações cada vez mais fracas. Final Destination parecia estar a imitar-se a si própria. Era necessária uma pausa, não só para refrescar ideias, mas para perceber como reintroduzir esta narrativa num contexto onde o género do terror evoluiu – e o público com ele.

Catorze anos depois do último título, a franquia regressa com Final Destination: Bloodlines. E, ao que tudo indica, os responsáveis perceberam que replicar a mesma fórmula já não seria suficiente. Este novo capítulo demonstra um esforço claro em compreender as regras internas da saga, expandir as suas consequências, explorar com subtileza algum humor e, sobretudo, desenvolver relações entre as personagens que voltam a despertar o interesse do público.

O acidente de abertura é, muito provavelmente, um dos melhores – senão o melhor – de toda a série. A forma como cada engrenagem do desastre se encaixa (ou falha) no topo de uma torre vertiginosa é filmada com precisão, deixando-nos com a sensação de estarmos a assistir, em tempo real, a um autêntico pesadelo. A personagem que tem a visão do que está para acontecer, Íris (interpretada com intensidade por Brec Bassinger), entrega uma prestação segura e eficaz, segurando com firmeza a tensão do primeiro acto.

A partir daí, o enredo transporta-nos para várias décadas mais tarde, focando-se nas consequências da premonição de Íris na vida da sua família. O filme insinua, de forma subtil, uma nova dimensão dentro da lógica da franquia: e se a Morte pudesse prolongar a sua cobrança ao longo de gerações?

Para além dessa nova camada narrativa, Bloodlines destaca-se também a nível técnico. A edição é ágil, acompanha com fluidez o ritmo das cenas e sincroniza-se até com a música ambiente – um elemento sempre presente na saga, tanto para criar ambiente como para deixar pistas. As sequências de morte estão bem conseguidas, misturando ansiedade, violência gráfica e até um certo humor absurdo. E o mais surpreendente: o ritmo é tão envolvente que o tempo passa num instante. Se tivesse mais meia hora de duração, dificilmente perderíamos o interesse.

Claro que não é um filme perfeito. Os efeitos visuais em CGI, por exemplo, são muitas vezes fracos e tiram o espectador da imersão por parecerem fora de tom com o resto da cena. Há também algumas interpretações menos inspiradas dentro do elenco – nada de escandaloso, mas nota-se que não é uma obra centrada na performance dos actores. E, infelizmente, o desfecho não está à altura do restante desenvolvimento: é confuso, pouco marcante e até algo incoerente com as regras que o próprio filme construiu.

Ainda assim, Final Destination: Bloodlines é uma entrada sólida na série. Não será o ponto mais alto da franquia, mas está longe de ser o mais fraco. É divertido, envolvente e, em vários momentos, tecnicamente competente. Mais do que um regresso, é uma prova de que, mesmo após tantos anos, ainda há espaço para reinventar – ou pelo menos revitalizar – uma fórmula conhecida. E que, quando bem feito, o terror pode continuar a surpreender.

4/5
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