Fim-de-Semana (2007)

de Janai Reis

Estranho Familiar

Fim-de-semana é o segundo filme de Cláudia Varejão, e o primeiro de uma trilogia de desencontros familiares. Esta prequela espiritual de Um Dia Frio (2009), passa-se numa casa de ferias durante um fim-de-semana onde o silêncio que prevalece traz também algo para contar. Uma Filha com um segredo (Adriana Moniz), um Irmão mais novo que só quer brincar (João Gil), um Pai calado e de pouca paciência (Adriano Luz) e uma Mãe que fala, mas apenas quando está ao telefone (Manuela Couto).

Nada parece tão estranhamente pessoal com a vida quotidiana de qualquer família de classe média. O amor familiar existe, está lá, guardado nas pequenas coisas e por muitas vezes no silêncio. Por vezes esse amor não se encontra à superfície, e isso pode fazer com que o espaço e a distância individual de cada membro seja respeitado. A quem observa, pode parecer estranho estes momentos, mas ao mesmo tempo é tão familiar.

É neste tentar respeitar o espaço do Outro, juntamente com a urgência de querer contar algo importante, que o filme nos prende ao ecrã. É deste desespero – mostrado, de forma subtil pelo olhar de Cláudia Varejão e pela interpretação de Adriana Moniz, com uma atmosfera pesada pela parte de Adriano Luz e pela frieza de Manuela Couto – que o filme nos transporta para um mundo tão real, tão verosímil. Toda a atmosfera favorece esta verossimilhança. Em todos os momento que passamos ao lado da Filha é criado um elo de empatia que nos torna reféns da intriga. Reféns desta busca da solução para o desespero vivido pela Filha e, progressivamente, vivido pelo espectador.

Para manter a premissa interessante não basta deixar a câmara a gravar, é preciso mergulhar fundo nas sensações e Cláudia Varejão sabe como o fazer: mergulhando com o espectador numa estica imersiva visualmente, mas também muito bem composta a nível sonoro. É nas diversas nuances de representações de silêncio utilizadas no filme que a história nos controla de forma sensorial. O som que passa despercebido, mas que está lá durante todo o tempo a dar pistas. Não a manipular emoções, ou a fazer puxar a lágrima, mas sim a guiar pulsações. 

Ainda que seja um filme de final aberto, há pelo menos um elemento que aumenta as possibilidades da narrativa. Uma possibilidade que alarga o poder do espectador de se emancipar. Um elemento presente apenas num momento do filme que abre portas para umas quantas verdades possíveis deste universo. Este elemento é um livro, na cena em que a Filha se tenta aproximar da Mãe. Vale a pena pensar nisso.

Parece difícil alguém apreciar ter um fim-de-semana de férias de verão que passe apenas em 8min, por mais desencontrado que seja, contudo, são 8 minutos muito fáceis de ver. É um excelente exemplo de como fazer cinema simples, curto e eficaz. As interações entre as personagens não são muitas e sem dúvida que o filme deixa a desejar por mais destes “encontros” familiares.

Esta crítica é acompanhada por um ensaio audiovisual de estrutura simples com o intuito de colocar a trilogia de Claúdia Varejão em diálogo. Desta forma é possível contemplar a estética dos filmes em separado, comparar os seus momentos nas questões narrativas e formais ou fazer as duas coisas em simultâneo. Ainda que este ensaio possua um lado analítico e lógico, foi construído também a pensar nas sensações e na experiência desta trilogia dos (des)encontros.

3/5
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Luz da Manhã (2012) - Fio Condutor 5 de Novembro, 2023 - 22:33

[…] da Manhã fecha a trilogia de Cláudia Varejão do (des)encontro familiar, que inclui os filmes Fim-de-Semana (2007) e Um Dia Frio (2009), e fá-lo de forma mais sensorial. No silêncio da rotina quotidiana, […]

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