É um esforço constante não cair no erro crasso de tentar comparar um antigo franchise com a sua nova fase. Aconteceu com Star Wars e a falta de planeamento de Kathleen Kennedy, aconteceu com The Hobbit e as 9 horas de filme que deviam ser 6 (generosamente), e está a acontecer agora com Fantastic Beasts, talvez a maior desilusão destes grupos de revivals que por si só já não colocam a fasquia incrivelmente alta. Secrets of Dumbledore é só mais uma prova disso.
O sucessor de Crimes of Grindelwald (2018), possivelmente o pior filme do Wizarding World e o maior falhanço de bilheteiras da série, centra mais proeminentemente a sua narrativa na rivalidade entre Albus Dumbledore (Jude Law) e Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen), antigos amantes com opiniões diametralmente opostas sobre o que deverá ser o futuro do Mundo Mágico: Albus quer a paz e a convivência com o Mundo Muggle; Gellert procura destruí-lo em prol de uma linhagem pura de feiticeiros. Em The Secrets of Dumbledore, a personagem titular reúne uma equipa, com Newt Scamander (Eddie Redmayne) à cabeça, para tentar desvendar qual será o próximo passo de Grindelwald rumo ao seu objetivo final.
Chegados ao terceiro filme do franchise, seria de esperar que por esta altura já fosse possível entender qual é realmente o foco desta série, mas a verdade é que está cada vez mais difícil de perceber qual é o plano de J.K. Rowling e da Warner Bros. para estas personagens. Que, apenas para começar, são demasiadas e o foco espalha-se demasiado por entre pequenas missões levadas a cabo por cada um dos elementos da equipa reunida por Dumbledore que define que o seu plano é não haver plano, o que não deixa de ser ironicamente poético. A missão é impedir o aproveitamento político que Grindelwald pode retirar das ansiedades do mundo mágico em relação aos Muggles, através das eleições para o Ministério da Magia que estão a decorrer em Berlim, transformando-se num thriller político em que nunca são claros os objetivos, a lógica ou os esquemas de poder entre os intervenientes, tornando-se tragicamente aborrecido. O paralelismo que se tenta fazer com o mundo real e as emergências de extrema-direita é tão descarado e sem nuance que transforma algo que podia ser só maçador em algo que pode roçar o irritante.
Não fosse a dinâmica interessante entre Jude Law e Mads Mikkelsen – uma melhoria gigante daquilo que fazia Johnny Depp com esta personagem –, alguns duelos mágicos interessantes e o charme infinito de Dan Fogler como Jacob – que merece estar num melhor filme que este – Secrets of Dumbledore arriscava-se a ser o mais fraco daquilo que é agora uma trilogia. É demasiado longo, demasiado confuso narrativamente, sem arcos, sem lógica e sem visão. Ainda assim, tem uma ideia um pouco mais clara para a história que quer contar do que tinha Crimes of Grindelwald e não tem a triste ideia de fazer twists apenas por fazer, sem se preocupar com o trajeto emocional das personagens ou as regras do seu próprio mundo. Continua a ser um mistério a presença da personagem de Ezra Miller neste franchise.
Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore tenta corrigir a rota do seu antecessor, mas continua-lhe a faltar justificar a razão da sua existência. O seu mundo está realmente cheio de magia e invenção, mas tem muito pouco de mágico. Aquilo que sempre fez o Mundo Potter funcionar era a dinâmica clara entre a palpabilidade do mundo e o carinho que tínhamos às personagens. Na série de Fantastic Beasts o Universo é maior, mas mais quebradiço e as personagens não têm a mesma qualidade do guião que tinham os seus colegas de Hogwarts. Mais uma prova que J.K. Rowling não é a pessoa indicada para estar a escrever os argumentos que sustentam este franchise e, por este caminho, será a razão da destruição da sua própria criação.