Tempo, diferença e intimidade são palavras de ordem na 13ª edição do Family Film Project, que retorna ao Porto de 15 a 19 de outubro de 2024, no Batalha Centro de Cinema e em outros espaços expositivos da cidade, com um novo programa dedicado ao cinema enquanto espaço de experimentação e apropriação estética.
Este ano, o foco principal do festival é dedicado à obra de Ben Russell, cineasta e artista multidisciplinar americano cuja obra se situa no cruzamento entre a etnografia experimental e o psicadelismo, com uma extensa obra que se estende do cinema à performance e à instalação. Os seus trabalhos passaram por alguns dos mais renomeados centros de arte internacionais e por festivais de cinema como Veneza, Roterdão, Locarno e Berlinale. Os últimos dois dias da programação do festival serão dedicados quase exclusivamente à obra de Ben Russell, com uma seleção de quinze dos seus filmes, entre curtas e longas-metragens documentais e experimentais, que constituem uma parcela expressiva do seu trabalho ao longo dos últimos vinte anos, incluindo a sua primeira longa-metragem, Let Each One Go Where He May (2009), premiada em Roterdão (FIPRESCI International Critics Prize, IFFR 2010) e a mais recente longa-metragem, Direct Action (2024), vencedora do Encounters Grand Prize na Berlinale 2024. Além da exibição dos seus filmes, o foco inclui também a performance ao vivo Conjuring e a masterclass Again, Time, onde Ben Russell refletirá sobre o seu percurso artístico e a sua abordagem à arte cinematográfica. Antes do arranque das sessões de cinema dedicadas a Ben Russell, terá ainda lugar uma conversa em palco com o cineasta, dirigida pela Susana Nascimento Duarte. O foco encerrará com a exibição de The Invisible Mountain (2021), um dos filmes mais pessoais de Ben Russell, que será também o filme de encerramento do Festival.
A secção competitiva mantém a matriz habitual, com a organização das sessões por zonas temáticas: Vidas e Lugares (com enfoque na abordagem estética a quotidianos, habitats e biografias), Memória e Arquivo (dedicada à temporalidade e à apropriação poética de testemunhos e found footage) e Ligações (centrada nas dinâmicas relacionais, interpessoais e interculturais). Como sempre, o festival reserva também espaço para sessões competitivas nos géneros da ficção e animação. Ao todo foram selecionados vinte e oito filmes para competição, provenientes de dezassete nacionalidades, incluindo quatro curtas-metragens portuguesas.
No âmbito da parceria do festival com o grupo de investigação Aesthetics, Politics, Knowledge do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, a programação dedica este ano o habitual ciclo de performances Private Collection ao pensamento sobre Michel Foucault, associando-se às atividades que o grupo de investigação organizou para comemorar os quarenta anos do desaparecimento deste autor fundamental no pensamento contemporâneo. No âmbito do ciclo de performances, conta este ano com as propostas de Sónia Carvalho, Mischa Twitchin, Sara Carinhas, Susana Caló e Godofredo Pereira (a ter lugar na Casa Comum e no Museu Nacional Soares dos Reis), performances que intercetam questões sobre o corpo e a resistência, o arquivo e as heterotopias.
Ainda no âmbito da parceria com o Instituto de Filosofia, a programação do festival inclui nesta edição três masterclasses por oradores convidados. Na masterclass The Site of Shadows, o filósofo britânico Mischa Twitchin (Universidade de Londres) reflete sobre os processos de construção de narrativas a partir das memórias do Holocausto. Com o título O Sopro Invisível do Cinema, o crítico e programador italiano Luciano Barisone irá falar do cinema enquanto arte, cuja função não será tanto informar, mas capturar o invisível. E as investigadoras francesas Sophie Raimond e Cristele Taillibert vêm falar sobre o experimentalismo cinematográfico ligado à apropriação de materiais de arquivo e filmes caseiros, no âmbito da colaboração entre o Family Film Project e o projeto REC.Forward (2022-2024).
Tal como em anos anteriores, as crianças e jovens continuam também a contar com o workshop Eu, na minha cidade, dirigido por Tânia Dinis, artista e cineasta que tem estado presente de diversas formas no festival. O programa inclui ainda uma instalação multimédia concebida pelo artista convidado Hugo Mesquita a partir dos filmes experimentais de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes (Portugal), Steven Mclnerney (Reino Unido) e Alexander Schellow (França). Esta instalação estará exposta no Batalha Centro de Cinema ao longo de toda a semana do festival.
Sabe mais sobre a programação desta 13ª edição em familyfilmproject.com