Incerteza. É essa a palavra que acompanha o visionamento do filme, e, por isso, acredito ser essencial começar esta crítica com ela. E porquê este termo? Porque o ambiente que nos é proposto é demasiado enigmático para poderem existir certezas sobre o que realmente vemos.
Tudo começa no mar…numa pequena ilha isolada no meio do oceano. Aqui, estranhamente, apenas moram mulheres e rapazes. As casas são feitas de pedra branca e contrastam com o preto da pedra vulcânica da praia. No meio deles, está Nicolas (Max Brebant), um jovem de 11 anos, que, a contrário dos outros rapazes, que se contentam em cavar na areia, assume uma personalidade própria. Gosta de passar o tempo na água, e explorar o fundo do oceano, ou a desenhar aquilo que lhe vem à memória. Tudo muda quando, ao mergulhar, encontra uma estrela-do-mar, vermelha e ofuscante, em cima do que parece ser um cadáver. Ao contar o que viu à mãe, que não acredita no que o filho lhe diz, e tendo a sua experiência desacreditada, começa a questionar toda a sua realidade naquela pequena ilha.
De uma forma geral, o filme está bem construído e cumpre o objetivo base de conseguir cativar o espectador do início ao fim. Porém, não podemos afirmar que seja um filme totalmente de terror. O que assistimos é a uma história de suspense, com uma grande base na ficção científica, e pitadas de body horror a acontecer em momentos chave.
Assim como grande parte dos filmes que trabalham neste “género de terror”, este também encaixa a natureza em toda a sua história, permitindo que ela assuma um papel de personagem ativa no desenrolar do argumento.
A nível sonoro, o silêncio é predominante. Existem diversos momentos em que uma cena acontece sem ser necessário palavra alguma. Um elemento tão bem trabalhado que cria no espectador uma sensação de claustrofobia atroz. Sentimos que também estamos presos nesta ilha, e que por mais que tentemos sair, não há volta a dar. O silêncio torna-se ensurdecedor.
O pensamento mantém-se a nível visual. É um filme totalmente despido, com cenários muito pouco construídos: os móveis são reduzidos ao mínimo, e as paredes estão cobertas de humidade. As cores do filme seguem a mesma linha, e são muito pouco saturadas. O neutro, os tons terra, e o verde seco são a base, e acabam por retirar toda a ideia de ilha paradisíaca.
Aliado a isso, o trabalho de criação de personagens está muito bem conseguido. Existe neste grupo de pessoas, uma ideia de mecanização, quase como se toda a ação do filme fosse um ciclo de repetições. Quando olhamos para estas mulheres, de longe, parecem cópias. De perto, as semelhanças são assustadoras. O mesmo acontece com os rapazes. Aparentam todos ter a mesma idade, e, tirando Nicolas, praticam as mesmas atividades, partilham os mesmos gostos e agem sempre da mesma maneira.
As cenas e as personagens apáticas remetem-nos a um ambiente antigo e gasto. Estas mulheres não demonstram sentimentos, são como robôs que andam, e que cuidam até ser necessário. A maneira como olham é de extrema frieza. O lado sentimental e materno que é inerente ao conceito de mãe não existe.
Évolution é uma viagem tumultuosa onde todas as questões são permitidas, mas só algumas têm resposta. É um filme tecnicamente muito bem conseguido e uma ótima escolha para quem aprecia um terror focado no sobrenatural.