Evil Dead Rise (2023)

de Antony Sousa

Jessica (Alyssa Sutherland) prepara-se para mudar de casa com os seus três filhos, quando recebe a visita inesperada da sua irmã, Beth (Lily Sullivan). Enquanto procuram resolver as suas diferenças, um livro demoníaco encontrado pelas crianças liberta um espírito maligno que promete nunca mais largar a família.

Evil Dead é um título histórico do mundo do terror cinematográfico, sendo este o quinto exemplar, e ao contrário do que acontece mais regularmente com sequelas do género que vão para lá do segundo capítulo, Evil Dead Rise triunfa sobre todas as dúvidas! Para quem tem como referência os primeiros filmes de Sam Raimi não ficará desagradado com o que Lee Cronin (realizador e argumentista) faz com esse legado. Todo o gore, humor negro, cenário claustrofóbico de horror contínuo e ritmo alucinante estão aqui, nas quantidades certas da receita diabólica de Raimi.

O início poderia ser uma curta-metragem por si. Em poucos minutos somos envolvidos pelo tom do filme, numa amostra que nos convida a sermos fortes para aguentarmos o que está para vir, ainda antes de conhecermos os nossos protagonistas. No entanto, é apenas um pequeno petisco antes do menu principal nos ser servido em pratos ensanguentados, numa viagem até um prédio que se torna numa ilha dos pesadelos, uns atrás dos outros sem conseguirmos acordar. Poucos minutos depois de sermos transportados para o apartamento de Jessica e seus filhos, é como se esse apartamento ganhasse rodas e disparasse a alta velocidade, desgovernado, sem travões, até ao inferno, sem retorno previsto. Beth, que só dá sinais de vida quando está em sarilhos e precisa de ajuda da irmã, de rompante tem uma prova de vida ou morte em relação aos seus instintos maternais. A sobrevivência dos seus sobrinhos passa a ser tão importante quanto a sua. Em toda a trama existem temas subliminares à violência física e verbal expostas no ecrã, sendo porventura a maternidade a mais presente. Através do humor gélido do espírito maligno, revela-se a voz que uma mãe pode ter na sua mente nos dias de maior cansaço e rebeldia dos miúdos, mas que por norma não chegamos a ouvir, graças ao filtro do bom senso. Escusado será dizer que o espírito não tem filtros, diz tudo o que pensa na cara (onde é que já ouvimos isto? Se calhar essas pessoas estão possuídas também, é estarmos atentos), e faz o que quer às caras dos outros também, já agora.

Há vários pontos a favor do filme de Lee Cronin, como a ausência de momentos mortos (no pun intended), o respeito pelo passado, já que associamos facilmente o que estamos a ver com o passado de Evil Dead, a bela equipa formada entre o humor com o terror, que não raras vezes é muito complicada de conseguir, a utilização do som e câmera ao serviço do aumento de tensão enquanto estamos nos nossos lugares sem pestanejar (ou desviando o olhar para não ver todo o sangue, depende do estilo de espectador), e em forma de cereja no topo do bolo de térmitas, as interpretações de Alyssa Sutherland e Lily Sullivan! Mais uma vez será expectável que as performances sejam desvalorizadas por estarmos em contexto de terror, porém só entramos no parque de diversões do diabo e seus filhos e primos porque cada uma, no seu registo, nos convence da veracidade dos acontecimentos. Em grande parte do filme colocamos a questão de como seria se estivéssemos naquela situação, se o instinto de sobrevivência prevaleceria perante o cocktail explosivo de razões para querermos simplesmente desaparecer e acordar daquele pesadelo palpável.

Referências mais ou menos óbvias a The Shining (1980), A Nightmare on Elm Street (1984) ou The Texas Chain Saw Massacre (1974) podem ser encontradas ao longo do enredo. Além de adicionar ao altar de personagens possuídas que se movimentam de forma creepy e não humana, do ponto de vista artístico do trabalho de corpo são assustadoramente hipnóticas também.

Para todos os fãs da saga Evil Dead é obrigatório, para quem nunca viu mas é apreciador do género de terror, obrigatório é. E para quem quer viver uma experiência quase imersiva aconselho a visualização no cinema, ainda vão bem a tempo.

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