No universo da Marvel, os Eternos são uma raça de humanóides, criados há um milhão de anos pelos enigmáticos Celestiais, para defenderem o planeta Terra, com os seus poderes e habilidades especiais, dos Deviants, que partilham uma origem similar mas objetivos diferentes. Devido à sua imortalidade, os Eternos isolaram-se da humanidade enquanto esperavam por cumprir o seu propósito. De uma maneira simples, é esta a história e a premissa de Eternals.
Em 2018, Kevin Feige anuncia que a Marvel está a produzir uma adaptação desta franchise e rapidamente a dupla Ryan e Kaz Firpo ficam encarregues do argumento enquanto Chloé Zhao é a escolhida para realizar. Em alta, após o seu último filme, The Rider (2017), que explora temas similares de culturas à parte na sociedade, esta decisão confirma a Marvel como pioneira (nos grandes estúdios) na busca de talentos novos ou não consagrados. O seu cunho pessoal de luz, paisagem e preocupação ambiental aliado a uma poesia e contenção cinematográfica pareciam a escolha certa. Com a estreia de Eternals, já a consagração de Chloé Zhao tinha chegado. Seria ela capaz de conter o Universo Marvel na sua simplicidade poética?
Dez heróis compõem os Eternals – Ajak, Sersi, Ikaris, Sprite, Phastos, Makkari, Druig, Gilgamesh e Thena, enviados para a terra no ano 5000 a.c., pelo Celestial Arishem, na sua nave espacial, o Domo. Há mais de 500 anos que não existem avistamentos de Deviants e, por isso, o grupo decide separar-se e viver anonimamente em várias partes do mundo, à espera do retorno de Arishem (líder dos Celestiais) ou de um ataque de Deviants. E é aqui, neste momento, que entramos no mundo dos Eternos.
Ainda estão comigo? A sensação preponderante que temos enquanto vemos o filme é mesmo essa. Com tantas partes em movimento, é difícil manter a coesão, uniformidade e acima de tudo o equilíbrio. Temos 10 protagonistas para os quais temos de saber o que representam, defendem e sentem num mundo em que nada é conhecido de antemão, como no caso de um Spider-Man ou mesmo de Thor (e eles são apenas uma personagem). A quantidade de informação a processar é tão grande que o filme se esquece que é um produto de entretenimento e nem sequer há tempo para conhecer cada um dos Eternos. Parece contranatura colocar Chloé Zhao a contar uma história sem ter tempo para os seus silêncios, contemplações e planos longos de paisagens. Eles surgem a espaços largos e perdem-se na imensa bagagem pessoal de cada Eterno, porque existe a preocupação de nos ligar emocionalmente com certas personagens como Ikaris (Richard Madden), Sersi (Gemma Chan) Thena (Angelina Jolie) e Ajak (Salma Hayek) enquanto as restantes não passam de caricaturas ou catalisadores de certos pontos de viragem no argumento. Quando parece que a narrativa começa a ganhar balanço e estabilidade, este desaparece num ápice com as constantes revelações do passado do grupo. A melhor opção teria sido uma série de episódios, a que a Marvel já nos habituou no canal Disney+, como forma de nos dar a conhecer todo o universo com a calma que merecia.
Não há como negar a beleza do filme, bem diferente do que a Marvel nos habituou, longe dos green screens e filmado no planeta Terra, entre vastas paisagens de desertos, montanhas, vulcões, florestas e oceanos. Quando surgem os efeitos visuais, são de um minimalismo elegante, no desenho das armas e poderes de cada um dos Eternos. Esta é uma longa-metragem de emoção e inclusão, sobre a fragilidade da condição humana no imenso universo (a nossa insignificância humana é exacerbada em todo o argumento) que agradará a quem se questiona sobre as grandes questões do cosmos.
A Marvel tentou mudar as regras do jogo nesta adaptação de um dos mais enigmáticos grupos de heróis presentes no seu catálogo mas acabou por se perder na sua própria ambição. Ao tentar explicar em demasia, acaba por se esquecer do seu principal objetivo, de entreter e divertir o espectador. Um resultado desapontante porque o talento e os temas presentes nesta produção prometiam bem mais do que conseguiram oferecer.