Eres Tú (2023)

de Antony Sousa

É de mim ou este filme não é um remake, mas parece que já o vi repetidas vezes noutra língua? Talvez seja. A Netflix tem-nos dado oportunidade para apreciar bom cinema espanhol, em registos completamente diferentes, e mesmo dentro deste registo romântico, filmes como Loco por Ella (2021) exemplificam a valia do mercado cinematográfico de nuestros hermanos. Mas é possível que esse sucesso, que se estende a séries de qualidade inegável também, leve a um espingardeamento de ideias que recebem luz verde e se calhar deveriam passar pelo amarelo para serem analisadas e reescritas primeiro.

O momento eureka para os argumentistas Cristóbal Garrido e Adolfo Valor terá acontecido quando algum deles se lembrou da possibilidade de uma personagem, Javier (Álvaro Cervantes), ver o futuro de qualquer relação amorosa aquando do primeiro beijo com a outra pessoa. Este ponto de partida abre algumas expectativas admito, até aguça o apetite criativo para alguns cenários cómicos/surpreendentes. No entanto, o que acontece é que Javier nunca se compromete com ninguém porque vê sempre que as relações não têm futuro, até que um dia beija alguém que lhe proporciona a visualização de um futuro risonho em parelha. Chocados? Percebo. Daí para a frente não vou adiantar pormenores para não correr riscos de spoiler, porém é muito provável que se por essa hora não estiverem já mais atentos ao telemóvel do que ao enredo, descubram bem cedo o que vai acabar por suceder.

Não tem que haver necessariamente algo de errado por um filme ser previsível, nem tudo tem que ter uma carta fora do baralho e um trunfo na manga. Aquilo que é mais discutível é quando percebemos nitidamente a intenção na escrita e a trama de nos apanharem desprevenidos na curva, aquela alteração de curso que contém um implícito “por esta vocês não contavam suas coisas fofas!”, e na verdade o que ocorre é que nós respondemos “amigo, tudo bem? Olhe é só para dizer que a situação surpresa estava com o rabo de fora na esquina… portanto antes da curva já previa os acontecimentos futuros. Quer que lhe diga como isto vai acabar mesmo estando no minuto 52´? Deixe lá então. Agradeço o esforço, volte a tentar!”.

Confesso a minha frustração para o mediano. Não há particularmente algo que desgoste fortemente em Eres Tú, o acting é bom, a ideia inicial é curiosa, o final não vai desiludir nenhum romântico, mas filmes de domingo à tarde não têm que ser comédias românticas. Há boas comédias românticas para qualquer hora ou dia da semana, o que é preciso é vê-las porque são inspiradoras, tenho muita fé no género, até porque acredito que para qualquer pergunta que tenha como resposta o amor, a resposta está certa. Contudo, este é um clássico – não é um “clássico”, aguentem – filme de domingo à tarde.

A personagem de Susana Abaitua é talvez a maior luz no meio do céu nublado, e ironicamente (ou não) com muitas cores parecidas com a sua personagem em Loco Por Ella, mencionado no início deste texto. Personagens secundárias que servem de alimento para o conteúdo cómico e para as cenas mais extremistas no sentido humorístico, representam um válido esforço, ainda assim não me recordo de ter esboçado mais do que um suspiro sorrido em todo o filme, que passa relativamente rápido diga-se de passagem, são cerca de 90 minutos. Ora lá está, tem todas as condições para ser uma história de domingo à tarde, num domingo perto de si.

2.5/5
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