É uma das personagens mais icónicas em Portugal dentro do género da comédia. Uma criação original cuja imagem expande em popularidade até ao Brasil, Bruno Aleixo iniciou a sua carreira online, através da série de vídeos: Os Conselhos que Vos Deixo. A resposta positiva transportou esta criatura, semelhante a um Ewok, para a televisão. A tela cresceu e o seu corpo sofreu uma transformação necessária na sua estreia televisiva, como apresentador do talk show O Programa do Aleixo (2008-2012), na Sic Radical. Criada por João Moreira, Pedro Santo e João Pombeiro, com Moreira a fornecer a voz desta figura principal e Santo a interpretar a voz do seu colega, Busto, exibiu um sucesso duradouro, suficiente para as salas de cinema, com O Filme do Bruno Aleixo (2019).
Os anos passam e o Bruno permanece no escopo do entretenimento nacional, agora com uma segunda entrada no grande ecrã em modo especial de Natal: O Natal do Bruno Aleixo (2022), uma história que coloca este protagonista em várias celebrações natalícias, justificando o motivo fundamental do seu ódio por esta época. Perante esta estreia, o Fio Condutor teve oportunidade de entrevistar João Moreira e Pedro Santo, a dupla de realizadores e argumentistas responsáveis por esta personalidade e por esta nova longa-metragem.
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Fio Condutor: O Natal do Bruno Aleixo teve a sua estreia mundial na Mostra de Cinema de São Paulo, em competição na secção “Novos Diretores”. Como foi a recepção do filme pelo Brasil? E como surgiu essa oportunidade de integrar na programação do festival?
João Moreira & Pedro Santo: Já tínhamos estreado o primeiro filme lá, em 2019. Por isso, já sabíamos que existia interesse e abertura para este novo filme. Ao contrário deste ano, em 2019 pudemos estar presentes e avaliar a boa recepção do filme ao vivo e em direto. Desta vez, o feedback só nos chegou em segunda mão, através de amigos que estiveram presentes e de algumas críticas em sites e blogs. Todas boas, felizmente!
FC: A ideia de fazer mais uma longa-metragem com o universo do Aleixo, e a posterior premissa que acompanhou a proposta, veio por parte da produtora ou é inteiramente da vossa responsabilidade? E porquê a escolha de um filme de Natal para o Bruno, tendo em conta o seu ódio pela festividade?
JM&PS: O filme surgiu inteiramente de uma proposta dos produtores, pouco depois da estreia do primeiro filme. Não sei se o Bruno já tinha expressado publicamente o seu ódio, mas achámos que bateria certo com a sua personalidade.
FC: Como surgiu a decisão de utilizar como mote “Um Conto de Natal” de Charles Dickens, para suportar a linha narrativa do filme?
JM&PS: A proposta da produtora assentava precisamente na possibilidade de acompanharmos vários natais, fossem eles do mesmo ano (envolvendo várias personagens) ou de anos diferentes. Essa história do Dickens é tão conhecida e foi tantas vezes adaptada que, de certa forma, já entrou para o cânone natalício. Ter o Bruno em modo Scrooge não só batia certo com a personagem como permitia essa estrutura episódica que a proposta requereu.
FC: O que aprenderam com a realização de O Filme do Bruno Aleixo (2020), que tenha servido de experiência para a execução de O Natal do Bruno Aleixo (2022)? Quais as principais diferenças que sentiram entre os dois?
JM&PS: Foram duas experiências completamente diferentes. O primeiro filme teve uma produção dita “normal”, com filmagem, montagem, etc. Este filme foi pensado para os tempos de pandemia… com 6 equipas a trabalhar remotamente, em simultâneo. Além disso, é praticamente só animação. Na verdade, não deu para trazer muita coisa da outra experiência, de tão díspares que foram.
FC: Qual o motivo principal por detrás da utilização de diferentes tipos de animações nos sketches natalícios?
JM&PS: Acabaram por se alinhar dois motivos: não só achámos que faria sentido experimentar diferentes registos visuais para diferentes fases da vida do Bruno, como nos permitiu articular as tais equipas de animação em paralelo.
FC: Que tipo de equipas de animação procuraram para isso e como foi a experiência de trabalhar com diferentes ilustradores?
JM&PS: A COLA Animation (que co-produziu o filme) foi quem nos ajudou nesse processo. O Bruno Caetano conhece toda a gente do meio e a escolha que fizemos foi perfeita. Já tínhamos alguns tipos de registo em mente, claro, até porque há episódios que se coadunam com registos mais infantis enquanto outros pedem um registo mais austero. Não conhecíamos ninguém, mas correu tudo às mil maravilhas e adorámos ver as diferentes versões do Bruno pela mão dos diferentes ilustradores. (A exceção foi o Rafael Hatadani, um animador brasileiro que já tinha animado os genéricos do primeiro filme. Quisemos que fosse ele a assinar o Natal do Brasil.)
FC: Em linhas gerais, e agora falando um pouco do próprio Bruno, como é que a personagem, e por consequência o seu grupo mais próximo, evoluiu nestes 14 anos de existência?
JM&PS: Evoluiu de forma muito orgânica. Na verdade, sempre tratámos as personagens como pessoas reais. Se ignorarmos os seus aspectos estranhos, verificamos que são bastante coerentes no feitio e nas suas ações. Ao contrário da maioria das personagens de ficção, estas personagens envelhecem… estão todas 14 anos mais velhas e têm mais 14 anos de convivência no pêlo. É natural que já haja outro tipo de confiança, que haja um histórico de implicância, que fiquem mais ranzinzas… Tudo isso ajuda a aprofundar as personagens, tornando-as mais consistentes e mais ricas.
FC: Que outras festividades o Bruno detesta ou adora, assumindo que tenha um gosto pelo Carnaval, devido às suas origens?
JM&PS: Que saibamos, o Bruno apenas despreza o Dia dos Namorados. Ou dias que façam aumentar o trânsito na sua zona. O resto, vai tolerando (mal ou bem).
FC: Têm planos para o futuro do Bruno Aleixo & Companhia no cinema ou na televisão que nos possam revelar?
JM&PS: Além da continuidade na rádio (Antena 3) e dos vídeos para a net, não temos nenhum projeto em mente.
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Entrevista por João Iria, Rúben Faria e Sara Ló