Enola Holmes 2 (2022)

de Antony Sousa

Agora uma detective com um estabelecimento oficial para ajudar a desvendar os mistérios dos mais necessitados, Enola Holmes (Millie Bobby Brown) tem como primeiro caso o desaparecimento de uma rapariga; um caso que rapidamente é associado a uma conspiração que esconde consequências ainda mais devastadoras para a população. Enola terá que juntar forças com o seu irmão Sherlock (Henry Cavill) na esperança de travar um plano engendrado por uma mente capaz de desafiar a genialidade da família Holmes.

Depois de Enola Holmes (2020) ter cumprido com os seus objectivos, tornando-se um grande sucesso no catálogo da Netflix, eis que a irmã mais nova do detective com maior perícia na arte da dedução volta com um novo capítulo. Com muitos elementos do primeiro, e vários indicadores do que será o futuro dos Holmes, fica claro que a ideia está em continuar a alimentar esta extensão do universo Sherlock por mais algumas sequelas. 

Millie Bobby Brown encantou meio mundo com a sua Eleven em Stranger Things (2016-), e encontrou em pouco tempo outra personagem que lhe assenta na perfeição e que está para durar. Enola é desconcertante, inteligente, perspicaz, corajosa, imprudente, bondosa, e mais emocional do que o seu irmão, pretendendo destacar-se como detective fora da sombra do grandioso Sherlock. A escassez de expressividade em Eleven é compensada com um leque variado de expressões espontâneas em Enola, onde Millie revela um timing de comédia no ponto certo, comprovando que a actriz está lançada para ter uma carreira muito longa, e de gigantesco sucesso.

Henry Cavill é obviamente um dos nomes mais apetecidos do mercado, sendo o actual Super Homem no cinema da DC; o actual Geralt na série de The Witcher (2019-) e também um dos principais candidatos a suceder Daniel Craig no papel icónico de James Bond. No entanto, o actor não é a opção mais lógica para interpretar Sherlock, e apesar de se defender bem, é difícil não recordar os Sherlocks anteriores de outras franchises. Em comparação, Cavill sai a perder. Nota para Louis Partridge que regressa com Tewkesbury, e para David Thewlis com o antagonista Grail, que encaixam bem nesta sequela.

Há uma intervenção muito maior de Sherlock neste filme, ainda assim o nível de brilhantismo que todos lhe conhecemos não tem grandes demonstrações para o espectador. Talvez para não apagar os méritos e potencial de Enola, e não transformá-la numa personagem secundária. Garantidamente porque o argumento é uma versão mais pobre de tudo o que estamos habituados a associar ao famoso morador de 221B Baker Street. É como se estivéssemos a jogar um videojogo, e só tivéssemos a opção “fácil”. A audiência resolve os puzzles ao mesmo tempo dos protagonistas; quase que somos nós a avisar as personagens dos twists nesta história, e os normalmente extraordinários exercícios de dedução não só são escassos, como pouco impressionantes. Quer isto dizer que está mal escrito e é pouco inteligente? Não, só não beneficia nada com qualquer comparação ao que já foi feito neste particular mundo criado originalmente por Arthur Conan Doyle.

Na verdade, há um número generoso de comentários elogiosos a fazer a Enola Holmes 2. Um deles sendo que consegue ser no mínimo tão divertido de se ver como o primeiro. Apesar de ser demasiado longo para o sumo que nos oferece, com uma primeira hora mais desprovida de interesse, arrebata uma segunda hora de bom entretenimento, com uma surpresa agradável, boas sequências de luta e perseguição, um abraço entre romance e comédia, e o desvendar de todas as investigações culminando no seu twist menos expectável.

Vale um bom serão de pipocas em casa, mesmo que nos possamos sentir observados enquanto tiramos o milho dos dentes, já que a fórmula de quebrar a quarta parede, ou seja de Enola olhar e falar directamente para a câmara, é tão repetida, que até apetece dizer para a rapariga se concentrar no filme! Estás a ser perseguida, miúda, o que quer que queiras dizer podes dizer depois… corre! Enfim, não revoluciona a história do cinema, nem sequer a história dos detectives no cinema, mas o entretenimento ocasional também faz falta.

3/5
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