Os conflitos parento-filiais parecem ser temas habituais sempre que Michael Pearce escreve e realiza os seus filmes. Estes conflitos podem ser visionados em alguns dos seus projetos, em Madrugada (2008) e Rite (2009) – ainda em formato de curta-metragem – tal como na sua primeira longa, Beast (2017) e ainda no seu mais recente filme Encounter.
Esta última obra, da Amazon Studios, assenta numa narrativa dramática e de suspense, onde acompanhamos Malik Khan (Riz Ahmed), um consagrado militar da Marinha, numa “missão de resgate” para salvar os seus dois filhos: Jay Khan (Lucian-River Chauhan) e Bobby Khan (Aditya Geddada) de uma “pandemia alienista”. Perante as advertências encontradas durante a fuga, os filhos são obrigados a crescer precocemente com o peso da responsabilidade pré-incutida pelo pai. A verdade é que há algo mais para além desta simples “sinopse” – e do género Sci-Fi – encontrada tanto no catálogo da Amazon Prime Video assim como no IMDb e Letterboxd. Precisamente a meio do filme (aos 54 minutos) dá-se a grande revelação, o fim das incertezas, o grande ponto de viragem… Este é o ponto onde o filho mais velho, Jay, tem de assumir uma postura mais adulta e carregada de sensatez ao perceber a condição do pai, agora suspeito de rapto.
Um dos temas abordados, e dos mais importantes, é o PTSD. Um tema como a perturbação de stress pós-traumático nunca é demais, especialmente quando retratados num país como os Estados Unidos da América, em que o sistema só valoriza os seus militares antes, durante e depois da luta (apenas no caso destes já se encontrarem mortos), com discursos e palavras patriotas – com sorte têm direito a uma estátua em sua homenagem. Contudo, não é um filme que se possa considerar indispensável neste campo. Ainda que seja percetível o esforço da escrita dos personagens, a grande força do filme está na verossimilhança da interpretação dos atores.
Riz Ahmed – que deu um bom contributo em Nightcrawler (2014) e que provou pertencer às grandes estrelas quando nomeado para o Oscar de melhor ator em Sound of Metal (2019) – não desilude e dá mais do que necessário para o que é exigido pelo personagem. Como Riz, também contamos com a presença de Octavia Spencer – vencedora do Oscar para melhor atriz secundaria em The Help (2011) – e, com a estreia de Lucian-River Chauhan e de Aditya Geddada que, não só juntamente com Riz, transmitem uma química muito forte de modo que, em momentos menos desenvolvidos narrativamente, fomentem o desenvolver dos personagens.
Formalmente, o filme não traz nada de novo sendo assim construído num sistema muito clássico, acompanhado por uma fotografia funcional e agradável, ao mesmo nível do som. O ponto mais fraco é realmente a confusão criada através de uma sinopse bastante ilusória, o que poderá falhar a corresponder às expectativas dos espectadores. Contudo, pode também causar o efeito contrário e surpreender pela positiva para quem seja obrigado a ver um filme aparentemente Sci-Fi /ação, e que acaba por ter algum conteúdo mais dramático.