Emily the Criminal (2022)

de Sofia Alexandra Gomes

Emily the Criminal apresenta-nos uma personagem de mesmo nome, Emily Benetto (Aubrey Plaza): uma jovem mulher que está afundada em dívidas estudantis e por isso sujeita-se a funções precárias. Aliás, a necessidade que tem de recorrer a este tipo de trabalho deve-se também a outra razão, essa por sinal mais forte: o seu registo criminal impede-a de aceder a cargos mais seguros, com contrato. Neste sentido, assim que surge a possibilidade de poder ganhar muito mais dinheiro, mesmo que para isso tenha de enveredar no crime, ela não consegue recusar.

O enredo, inicialmente, parece-nos óbvio. Ao apresentar-nos esta protagonista, que devido à agressão que cometeu, aparentemente em legítima defesa, vê-se encurralada para arranjar emprego, suscita em nós, espectadores, apenas empatia e compaixão, pois vemo-la como uma vítima do sistema… Sistema esse que não faz qualquer esforço para a reintegrar apesar da infração (supostamente ‘mínima’) que perpetrou. No entanto, nada nos prepara para o evoluir da história que não vai de todo ao encontro destas primeiras impressões.

O arco de Emily transforma-se drasticamente – de forma gradual. É este, aliás, o motivo que destaca Emily the Criminal dos demais também sobre criminosos, além da performance ímpar de Aubrey Plaza, que nos prende completamente ao ecrã. Ela, neste papel, vinga em absoluto as características essenciais da personagem: a dureza, a ironia, a valentia, o ceticismo… Todos estes atributos existem na medida certa na sua prestação. Com efeito, é possível afirmar o seguinte: o filme não existiria com toda esta pujança se não fosse a presença extraordinária, idiossincrática de Aubrey Plaza. Seria apenas uma mera obra, igual a tantas outras do mesmo tipo – ainda que o seu pacing, na forma como executa a escalada da tensão, seja verdadeiramente impecável, o que é de louvar para um realizador estreante como é o caso que aqui se verifica (John Patton Ford).

Além disso, a longa-metragem oferece também uma crítica social ao capitalismo americano que nos mostra que os atos ilegais não são apenas algo tentador neste quotidiano: tratam-se, na maioria das vezes, das únicas opções viáveis para se vingar na vida quando estamos completamente desamparados… Ainda que isso não a ilibe totalmente (nem ninguém que atravesse as mesmas circunstâncias ou idênticas).

A química que existe entre Emily e Youcef Haddad (Theo Rossi), que no começo da trama é unicamente o seu chefe, guiando-a nos delitos a executar, mas, depois, mais tarde assume-se como (quase) um mentor para ela, também nos prende a este projeto. Esta ligação emocional faz-nos torcer ainda mais pela personagem – mesmo quando as suas ações já são incontornavelmente condenáveis.

De ritmo perfeito, com a adrenalina no ponto, Emily the Criminal mantém-nos sempre atentos na esperança de que vejamos a vida da personagem suprarreferida refeita. Todavia, quando percebemos que isso não acontece a curiosidade não desvanece: pelo contrário, aumenta.

4/5
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