Elton John: Never Too Late, mostra a despedida da estrada do artista, o encerramento de um capitulo importante na sua vida de forma carinhosa e emocionante. O documentário leva-nos ao longo dos 10 meses que antecedem o último concerto da tour nos Estados Unidos e que culmina com um nostálgico concerto no Dodger Stadium em Los Angeles. Em paralelo, acompanhamos o início da carreira do músico até ao seu pináculo, passando pela sua infância, inspirações, altos e baixos, até ao seu pináculo nos icónicos concertos no mesmo estádio.
O documentário parece uma carta de amor e nota-se que Elton John está preocupado com o seu legado e com as histórias que vai deixar, apesar de acompanharmos os momentos de glória do artista, o tom é sempre contido e faz reflexões mais profundas sobre a sua vida e mortalidade.
O filme foi co-realizado pelo experiente R.J. Cutler e David Furnish, marido de Elton John, o que se traduz num documentário muito competente que retrata com muito respeito e delicadeza a intimidade do cantor sem ignorar os momentos menos bons.
“There was an emptiness within me. I Could have great fun but when I went home at night it didn’t really satisfy me. The only thing in my life at that point was work.”
Elton John: Never Too Late começa num tom intimista, como uma conversa, onde o artista desabafa e conduz-nos pela sua história como se estivesse a revelar o seu diário através de fotografias antigas, algumas animações e um arquivo dos seus 50 anos de carreira, incluindo algumas imagens exclusivas.
Felizmente, é um documentário de música, onde a música tem um papel de destaque e que serve de linha condutora para nos guiar ao longo dos seus 102 minutos. Na primeira parte do filme seguimos o processo criativo dos hits que constituem o álbum Elton John e que serviu de porta de entrada nos EUA e confirmação do seu sucesso internacional; depois leva-nos pela sua fervorosa produtividade dos anos que se seguem; pela sua parceria com Bernie Taupin; a produção de alguns dos seus maiores êxitos, antigos e atuais, como a colaboração com Dua Lipa e até uma participação de John Lennon, naquela que foi sua ultima atuação ao vivo.
Acompanhamos alguns momentos mais pessoais como uma videochamada com os filhos, a sua reação à utilização da palavra queer, a importância de ter mudado de nome e a forma como construiu este Elton John através do seu estilo próprio de tocar piano e nas suas opções de guarda-roupa.
“My soul gone dark. I had gone dark. I desperately didn’t wanted to be the Elton I become, I wanted to be the person before that.”
A estrutura da obra faz uma justaposição entre estes dois momentos tão distintos no mesmo estádio, apercebemo-nos da sua intenção desde o início, no entanto, o seu objectivo é mais subliminar e vai para além de uma retrospetiva da carreira de Elton John, mostra uma reflexão na sua vida pessoal, principalmente no que toca ao amor. Never Too Late é, não só, o título do documentário como o título da sua última música em colaboração com Brandie Carlile e a mensagem principal de esperança que o músico nos deixa. Apesar da infância difícil que viveu, da relação perturbada com os pais, o facto do pai nunca o ter visto a atuar, a necessidade de se agarrar ao piano e à música para escapar, da forma como isso progrediu para um problema com drogas, da sua ingenuidade que resultou desse isolamento, da forma como teve o seu coração partido várias vezes e como levou 45 anos a aprender a viver consigo, apesar de tudo isso, nunca é tarde demais para encontrar o amor.
“I do have a certain amount of sex that’s it. I desperately liked to be loved but that isn’t part of my life that’s come together yet.”
Ainda antes do grande final, ouvimos parte de uma entrevista onde fala da sua sexualidade e que serve como ponto de viragem: mais que uma despedida, Elton John: Never Too Late é o encerramento de um ciclo que nos mostra uma nova fase na vida do artista que quer ficar mais perto de casa, perto da sua família.
O documentário culmina no concerto no Dodger Stadium em 2022 com um momento musical e a entrada da sua família em palco que me deixou com alergias, estou a brincar, não tenho problemas em admitir que me comovo com estas coisas, principalmente com momentos em palco porque se há coisa que invejo mais do que pessoas que conseguem dormir oito horas, são pessoas que criam estes momentos de cultura e que têm a oportunidade de os absorver através da energia das multidões.
Elton John: Never Too Late deixa-nos com um sabor doce e um espírito de positividade e muita vontade de ouvir Your Song.
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