Mais do que o homem, a sua criação tornou-se o seu mais famoso símbolo e o que ainda o define até ao presente – A torre Eiffel, projectada por Gustave Eiffell como o arco de entrada da Exposição Universal de 1889. Arrisco a dizer que muitos nem sabem que a sua mais famosa construção, em Paris, teve muita resistência aquando da apresentação do projecto e foi vista com maus olhos pelos parisienses. Apelidada de monstruosa e inútil pelo povo enquanto a elite cultural francesa, na pessoa de Guy de Maupassant, chegou a chamar-lhe a “vergonha de Paris”. Actualmente é um dos edifícios mais reconhecíveis em todo o mundo, recebendo 7,1 milhões de visitantes por ano e com um volume de negócios de 73 milhões de euros (dados de 2011). Mas mais que isso é unanimemente elogiado e considerado o maior símbolo da capital parisiense ultrapassando muitos outros monumentos clássicos da imensa história francesa.
Os documentos e histórias sobre a torre Eiffel são escassos, nos dias de hoje, e pouco se sabe sobre o homem por detrás da torre. Neste último filme de Martin Bourboulon, acompanhamos Gustave Eiffel (Romain Duris) desde Bordéus, no seu primeiro projecto oficial como engenheiro, até ao processo de criação e construção do mais famoso monumento de França e das reações que recebeu na sociedade de Paris. Entre os tempos de Bordéus e Paris o único ponto de ligação é Adrienne Bourgés (Emma Mackey), o seu primeiro amor e a única mulher que alguma vez o desafiou. Em Paris relembra os tempos de juventude e cria uma obsessão pela, agora casada, Adrienne enquanto trabalha na torre que vai definir a sua vida.
Como qualquer blockbuster moderno não basta contar ou descrever os passos da vida de um grande homem, o que conseguiu e os obstáculos que ultrapassou – acima de tudo é retratada a essência de uma grande personagem. Quase como projecto secundário de Eiffel surge a construção de uma torre que irá definir uma cidade (e mesmo um país), enquanto o elemento principal é a relação entre Gustave e Adrienne. E quem melhor que Romain Duris, com créditos firmados na sua extensa carreira, para encabeçar este engenheiro cheio de paixão e força e, ao mesmo tempo, frágil e receoso de acreditar novamente no amor.
A principal responsável pela dualidade de Gustave é Adrienne, pela mão de Emma Mackey, nascida na alta sociedade e com o mundo a seus pés. Conhecida mundialmente pela série Sex Education (2019 – ), Mackey surge neste filme como uma mulher capaz de tudo e à frente do seu tempo. É esta, aliás, a razão por que chama à atenção de Gustave quando a encontra em Bordéus durante o seu primeiro projecto de construção. A química é inegável desde esse primeiro encontro, e Emma tem essa capacidade de se transformar de jovem mulher em Bordéus para uma esposa dedicada na alta sociedade de Paris do séc. XIX. Já o tinha dito na crítica de Death on the Nile (2021) de Kenneth Branagh, e volto a dizer nesta crítica de Eiffel, Emma Mackey é uma estrela em ascensão; o seu olhar move o espectador para a sua esfera de influência para nunca mais de lá sair. O seu magnetismo e olhar penetrante carregam o peso de uma grande mulher e o filme ganha quando ela está presente.
O excelente trabalho de cenografia, o guarda-roupa, a fotografia e a atenção ao pormenor no detalhe da vida parisiense do final do séc. XIX facilita também a audiência a acreditar neste mundo, em plena ascensão tecnológica mas ainda dependente do trabalho duro de cada um e do engenho humano. A construção da torre Eiffel durou quase dois anos e esse processo desenrola-se em frente dos nossos olhos com os próprios avanços e recuos necessários a criar a tensão essencial na história. Nem tudo é uma descrição exacta do que aconteceu, o que poderá desagradar aos puristas históricos, mas como o próprio Martin Bourboulon admitiu, é necessário romantizar a realidade. Independentemente desta ideia, é inegável o feito gigantesco que foi a sua construção.
Esta é uma história de amor impossível e uma grande produção francesa de um dos seus expoentes máximos na área da engenharia – Gustave Eiffel, para sempre conhecido pela torre à qual deu o nome. Este é um filme de Romain e Emma; na sua química inegável e nos seus olhares carregam o filme, transformando a história real de uma França em pleno séc. XIX numa versão romantizada e leve de um tumultuoso período da vida parisiense.