Onde Lynch e Jodorowsky falharam, dificilmente outra pessoa que não Denis Villeneuve iria falhar também a trazer a obra titular de ficção científica escrita por Frank Herbert ao grande ecrã.
Nesta Parte 1 daquilo que se espera ser a primeira metade de um épico de duas partes, somos introduzidos a um universo de conflitos políticos interplanetários que no seu centro tem a disputa ao acesso da especiaria mais preciosa do Universo.
No meio disto está Paul Atreides (Timothée Chalamet), um rapaz de dons extraordinários que tem nas suas mãos o poder de mudar o destino de todo o Universo. Esta história estelar necessita claramente de uma escala à altura e Villeneuve está ao nível desta tarefa. Os sets são gigantescos, a fotografia, tantas vezes desértica de Greig Fraser deixa alguma iconografia de cortar a respiração e a banda sonora de Hans Zimmer é ensurdecedora e faz arrepiar a espinha a qualquer espectador em sala.
Algo desta dimensão também requer um elenco extenso com metade de Hollywood aqui presente como já não se via há muito tempo e com algumas das estrelas mais influentes do momento. Infelizmente, a estes atores, não foi dado grande coisa para fazer.
O problema de Dune: Parte 1 (2021) é que não é mais que um espectáculo introdutório com quantidades massivas de exposição e ação brilhantemente montada mas que se sente inconsequente devido à falta de vivacidade destas personagens, que todas elas são sacrificadas em par do estabelecimento de narrativas que apenas serão desenvolvidas numa Parte 2 que, ao dia de escrita deste artigo, não está confirmada.
Neste sentido, esta primeira parte da história sente-se incompleta, pouco satisfatória e – não fosse o brilhantismo visual – aborrecida. Estas são coisas que até hoje não faziam parte do vocabulário de Villeneuve. Timothée no papel de Paul Atreides falha em tornar esta personagem cativante, mas quase por desígnio, pois a pobreza e vulgaridade deste Paul tornam-no difícil de tornar interessante. O mesmo pode ser aplicado ao restante elenco, que embora competente, raramente é memorável, mais uma vez, não por culpa própria mas por falta de mais conteúdo.
Assim, Dune: Parte 1 (2021) é um meio filme. São 2h30 a estabelecer um terceiro ato que não existe e que está tão preocupado em designar um futuro, que se esqueceu de fazer uma primeira parte que, no mínimo, se sentisse satisfatória, retirando ao público, personagens marcantes ou sequer uma história à qual gostaríamos de conhecer o desfecho.
Espero que sim, mas o futuro de Dune parece incerto. Será também interessante revisitar este texto quando (e se) houver Dune: Parte 2, mas de momento só existem estes 155 minutos para ver e esses estão longe de brilhantes.
1 comentário
[…] dos nossos tempos, teria o arcaboiço necessário para dar continuidade ao trabalho começado em Dune (2021). Ainda assim, a envergadura do que faltava adaptar do romance de Frank Herbert, até agora […]