A velocidade com que a internet nos surpreende, com novas maneiras de nos enredar cada vez mais numa teia de ligação, é difícil de igualar por qualquer outra invenção humana. Após a sua criação, a incessante necessidade humana de nos conectar com o próximo, levou-nos a quebrar cada vez mais regras de anonimato. Desde as redes sociais, aos perfis de dating e passando pelo Bluetooth, que permitiu a criação do AirDrop, um serviço wireless que permite a partilha de ficheiros entre aparelhos da Apple. Esta aplicação dá-nos a capacidade de enviar documentos, fotos e vídeos entre aparelhos, desde que autorizado pelo utilizador, mas sem controlo de quem nos envia.
A premissa deste Drop pega nesta “inovação” do mundo moderno e transporta-a para um cenário onde Violet (Meghann Fahy), uma mãe recentemente viúva, decide voltar a procurar o amor através de uma aplicação online. O escolhido é Henry (Brandon Sklenar), e, à primeira vista, o primeiro encontro parece estar a correr na perfeição quando, de repente, começa a receber Airdrops de um telefone anónimo. O grau de ameaça e violência escala nas interações e o de incerteza também. Será Henry quem diz ser ou o perigo virá de outra das inúmeras pessoas presentes no restaurante? Até onde estará Violet disposta a ir para salvar a vida do seu filho agora ameaçada?
O clássico jogo do gato e do rato entre o assassino e o seu alvo, mas onde não sabemos razões ou motivações de nenhum dos lados. O argumento opta por as revelar lentamente em cada interacção entre Violet e o misterioso homem que puxa os cordelinhos nos bastidores. A cada mensagem as suas intenções, e o grau de ameaça, vão crescendo tornando o ambiente bastante claustrofóbico e carregado de tensão. Como é natural nestas produções, há uma necessidade de lidar com o desconforto causado no espectador e a comédia é o modo de desanuviar mas nem sempre é usada da melhor maneira. A esta, nem sempre inspirada mistura, é ainda adicionado o romance, um primeiro encontro entre Violet e Henry, que apesar da química visível, nunca deixa de ser apenas uma nota de rodapé na narrativa desenvolvida.
Tanto Meghann Fahy como Brandon Sklenar não desapontam mas Meghann Fahy é de longe a mais talentosa do duo e mantém o espectador sempre do seu lado, através da sua expressividade e das emoções sempre à flor da pele. Mantém, por si só, o filme à tona de água, apesar da constante procura de outros pontos de interesse, com a introdução constante de possíveis assassinos, mas onde todos surgem reduzidos a clichês e a debitar frases feitas. O equilíbrio de todos estes pontos menos bem conseguidos é, no entanto, assegurado por uma edição onde se cultiva um ritmo frenético e onde desfilam ideias interessantes, no uso de luz, como forma de destacar opções narrativas e subverter expectativas. Alguns pontos de vista originais e sequências do passado das personagens revelam ainda uma direcção de fotografia que procura deslumbrar, nem sempre de forma bem-sucedida, mas sempre em prol do escalar de tensão para o espectador.
O inevitável aproximar do final acaba por precipitar uma conclusão de todo inesperada mas que potencia a tensão acumulada de forma satisfatória. Claro que pede ao espectador que abdique de todas as suas noções adquiridas de física, com sequências mirabolantes que desafiam a realidade, mas o sentimento de diversão é inegável. Drop, de Christopher Landon, recupera o significado de terror despreocupado que tinha conseguido em Happy Death Day (2017) e que tinha ignorado nos seus mais recentes filmes. Longe de ser suficientemente distinto ou original para se tornar um clássico ou um filme de culto, existem, no entanto, motivos suficientes para nos ligarmos à sua mais recente proposta.