Don’t Make Me Go (2022)

de Francisca Tinoco

Don’t Make Me Go, realizado por Hannah Marks, é uma aposta da Amazon Prime Video que conta a história de Max (John Cho) e da sua filha Wally (Mia Isaac), que partem numa roadtrip pela América depois de ser encontrado um tumor no cérebro de Max. 

Sem nada revelar a Wally, quer acerca do diagnóstico, quer acerca do seu plano, Max decide levá-la até ao outro lado do país para conhecer a mãe que a tinha abandonado em criança. Desde o início do filme prevê-se que este conjunto de circunstâncias, assim como as decisões de Max, serão a receita perfeita para o desastre total. “Vocês não vão gostar da forma como este filme acaba,” é a afirmação fatídica feita por Wally em voz-off na sequência de abertura de Don’t Make Me Go e não poderia ser mais verdadeira. 

A premissa de Don’t Make Me Go, em que uma personagem com um diagnóstico terminal decide fazer uma viagem para se reconectar com o verdadeiro sentido da vida, de tão lugar-comum que é, cria no espectador um conjunto de expectativas desde o início. A verdade é que, apesar de não conseguir de todo libertar-se da jaula formulaica a que este tipo de história obriga, Don’t Make Me Go não é, na sua maioria, um filme desagradável, excessivamente lamechas ou, até, inteiramente previsível. 

O laço entre Max e Wally é genuíno e convincente, em grande medida graças à química entre os atores, mas também devido às circunstâncias peculiares que marcam a sua dinâmica. A experiência de um pai solteiro não é frequentemente representada no cinema, e cria, no filme, momentos particularmente comoventes, como quando Max decide ensinar Wally a dançar e lhe fala sobre o amor. 

Individualmente, cada protagonista tem também alguma complexidade que os eleva e conecta com o espectador. Max é um pai carinhoso e incrivelmente dedicado, com um trabalho estável e uma boa relação com Wally. No entanto, à medida que o conflito progride, vem ao de cima um lado imaturo e frustrado com a vida que transformam uma personagem aparentemente equilibrada num homem-criança com mais perguntas que respostas. Por sua vez, Wally faz o percurso inverso, começando como a típica adolescente americana que mente ao pai para ir a festas, e revelando-se, aos poucos, uma jovem sensata, apesar de emotiva, e destemida apesar de insegura. 

No seu melhor, Don’t Make Me Go é um filme sincero, cómico, e bem intencionado. No entanto, sem querer arruinar as surpresas que a história proporciona, tudo descamba com a grande revelação feita no seu trecho final que deturpa completamente a mensagem do filme. Cada um irá interpretar esta conclusão de forma diferente, mas a mudança de direção é tão repentina que quase provoca vertigens. O discurso de encerramento de Wally que dá seguimento ao tal fatídico voz-off do início, dá ao filme uma moldura moralmente questionável que estraga o ambiente acolhedor que o caracterizava até então. 

Sendo difícil descrever por meias palavras e sem spoilers aquilo que faz Don’t Make Me Go uma tentativa falhada, e um tanto ou quanto perversa, de uma reflexão sobre o significado da vida, caberá, então, ao leitor desta crítica decidir se a vontade de matar a curiosidade sobre este filme se sobrepõe ao medo de desperdiçar tempo nele. 

2.5/5
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