Distancia de Rescate (2021)

de Guilherme Teixeira

Distancia de Rescate (ou Distância de Segurança) é um filme de terror psicológico, realizado por Claudia Llosa, que conta uma história, não linear, sobre a relação entre duas jovens mães durante uma crise espiritual, a partir da perspetiva de Amanda (María Valverde), uma jovem em sofrimento e perto da morte, que é acudida por David (Emilio Vodanovich), um rapaz que tenta perceber a verdade atrás desta agonia física. 

Baseado no romance aclamado de Samantha Schweblin de 2014, este é um filme de natureza bastante estranha. Não é muito comum assistir a uma produção audiovisual onde a narração é tão ou mais importante do que o visual. Apesar de ser uma proposta interessante, não posso dizer que tenha resultado a 100%, nem a 80%, nem a 70% e a partir deste ponto acho que a minha opinião tornou-se compreensível, o resultado final é semelhante a um audiobook com imagens. 

A sua narrativa faz lembrar os sketches de humor onde alguém tenta conduzir pela primeira vez, com o carro a andar sempre aos solavancos. Constrói o seu suspense em volta de um misticismo que paira sobre David, partindo, depois, para a desconfiança que a mãe de Amanda, Carola (Dolores Fonzi), sente pelo rapaz, impedindo, assim, um desenvolvimento de personagens profundo que afete o público. Exceto no caso de Amanda, por quem sentimos uma ligeira simpatia devido à sua posição de protagonista que naturalmente coloca a audiência mais predisposta a ceder-lhe mais empatia, contudo, atribuo isso à atuação da atriz em vez da história em si.

O ritmo peca pela sua lentidão com demasiadas cenas que prometem e não entregam nada, como por exemplo, uma personagem que, inicialmente, parece relevante para o desenvolvimento da narrativa, simplesmente, desaparece durante todo o segundo ato. Aprecio filmes que usufruam do seu tempo para explorar personagens novas e elaborar uma ligação com aquelas que já foram estabelecidas para construir agonia, tensão ou suspense, mas neste caso o desespero que senti não foi pelo terror. 

Confesso que posso estar a ser um pouco injusto por apontar estes erros com alguma crueldade, todavia, são o resultado de uma grande frustração perante os problemas significativos do filme. Se tivesse de colocar esta longa-metragem numa caixinha, iria direto para a categoria de boas ideias com execução mediana. Digo que a ideia é boa porque durante o final do primeiro ato e o início do segundo, a sua história consegue captar um investimento emocional com as suas ruturas pouco comuns no cinema e a sua estrutura estranha intrigante, que mantinha o suspense ativo naquele clássico sentimento de dúvida em relação ao narrador. 

Porém, sempre que o filme parece caminhar para um climax, logo de seguida toma outro rumo que exige algo novo sem nunca ter dado algo em concreto de troca. Podia ter explorado mais detalhadamente a personalidade de David e os aspetos cruciais da sua vida. Possivelmente, a proposta de construir uma narrativa a partir das lembranças de Amanda pode ter restringido um pouco a ramificação da história mas, sendo sincero, dado a natureza estranha dos eventos que ocorrem, seria esperado uma explicação sobre o que realmente se está a passar.

Distancia de Rescate tem uma duração de uma hora e meia mas sentimos duas horas. O seu ritmo é demasiado lento para a história que quer contar, sofrendo pela falta de foco no seu enredo que se materializa em arcos muito pouco desenvolvidos.

Ainda assim, se ficaram curiosos, o filme está disponível na plataforma de streaming da Netflix desde o dia 20 de Setembro.

3/5
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