Os Minions, sim aqueles adoráveis “monstros” amarelos, conquistaram o mundo em Despicable Me (2010). Tal foi a sua popularidade, que acabaram eles próprios de passaram de meros secundários para as vedetas dos seus próprios filmes com Minions (2015). O seu sucesso resulta de uma combinação de factores que vão desde a avalanche de gags cómicos, da sua linguagem muito própria, da sua personalidade efusiva, da sua natureza travessa ou pelo impacto visual da sua indumentária azul cruzada com a pele amarela. Seja qual for a razão vieram para ficar.
Depois da saga ter seguido numa tangente, viajando ao passado de Gru (VP – Manuel Marques), e aos seus anos formativos de como ser um vilão no filme anterior, voltamos neste Despicable Me 4 ao presente e à vida de casado com Lucy (VP – Rita Blanco), as suas 3 filhas adoptivas e a nova adição da família, Gru Júnior. Após a fuga da prisão de um dos seus arqui-inimigos, Maxime Le Mal (VP – José Jorge Duarte), Gru é obrigado a aceitar uma nova identidade, para sua protecção e da sua família, e mudar-se de armas e bagagens para uma nova casa longe de tudo o que lhes é familiar.
Esta é a premissa do argumento, o de um convencional programa de protecção de testemunhas, mas aplicado ao multiversoMinions, também ele refém das suas regras e imposições, para o bem e para o mal. A saga percebeu com Minions (2015) que, apesar do sucesso estratosférico dos seus “bonecos” amarelos, a sua mera presença não implicava uma história com pés e cabeça. O sucesso comercial sempre foi inegável, mas a ausência de Gru tornou esse filme apenas uma sucessão de gags, divertidos é certo, mas sem qualquer impacto emocional. Foi por isso natural o regresso de Gru novamente com Despicable Me 3 (2017), e também na sequela de Minions, Minions: The Rise of Gru (2022), uma prequela onde Gru estava presente como criança, ou melhor “mini-boss”, como os seus lacaios tão adoravelmente gritavam.
Voltando à família nuclear, sete anos depois da sua última presença, e a sensação é de que, apesar de residuais na história, fazem falta para criar o sentimento fundamental da personagem de Gru – o de ser um protector dos que ama. A adição de Gru Jr. adiciona ainda uma nova faceta, a de pai babado à procura de criar uma ligação forte com o filho. Os dados para agarrar os pais estão lançado e as implicações emocionais, apesar de simples, são bem conseguidas. Como é de esperar, este é um argumento que joga pelo seguro e cumpre com os objectivos, como uma máquina bem oleada. Também osMinions estão iguais a eles próprios, no apoio a Gru durante a sua missão, assim como no seu próprio spin-off, dentro do próprio argumento deste filme, em que exploram o universo dos super-heróis, adquirindo o nome de Mega Minions. A sua semelhança óbvia com super-heróis conhecidos do grande público cria situações engraçadas, e alguns dos momentos mais cómicos do argumento, ao brincar com o ridículo dos super-poderes, a saturação evidente do mercado para com os heróis de capa e licra, e a obsessão com a palavra multiverso. O melhor momento está, no entanto, dedicado a outro spoof, cortesia de uma perseguição a Lucy inspirada noutra grande franchise de Hollywood, a saga do Exterminador Implacável, desta vez dentro dos corredores de um supermercado. O sorriso de orelha a orelha é impossível de evitar – brilhante!
Assim como estes pequenos grandes momentos se sucedem, também se torna evidente a habitual “maldição” de todo o multiverso Minion. É impossível disfarçar a estrutura desconexa do argumento tal a quantidade de saltos dados entre o drama emocional de Gru e da sua família, os constantes spoofs a inúmeros filmes e as outras sub-histórias que se criam para cada uma das novas personagens durante a sua duração. Tudo porque é necessário satisfazer todos e cumprir todos os requisitos de que um filme deste universo necessita.
Reconheço a importância da dobragem de vozes para o português, como maneira de inclusão dos que de outra maneira não poderiam experienciar o filme na sua totalidade, mas este parece estar refém da versão original, das suas piadas, ritmos e cadências. É notório o talento português e o bom casting, misturando intérpretes consagrados e cameos de famosos, mas parece que se perdeu a noção de risco das dobragens de outros tempos, agora apenas limitado ao sotaque escolhido para as suas respectivas personagens.
Despicable Me 4 cumpre no principal requisito a que se propõe, um tempo divertido na sala de cinema, com inúmeras sequências hilariantes – cortesia dos Minions – e uma história simples na sua execução e duração. Perfeito para os mais pequenos, mas apenas sofrível para os que os acompanham na sessão.
Nota: Esta crítica foi escrita tendo em consideração o visionamento da versão dobrada em português de Despicable Me 4
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