Delicious (2025)

de Sofia Alexandra Gomes

Esther (Valerie Pachenr), John (Fahri Yardim), Philipp (Caspar Hoffman) e Alba (Naila Schuberth). Eis os elementos da abastada família alemã que Delicious nos apresenta numas férias de verão na Provença, em França. Tudo lhes corre às mil maravilhas, dado que o luxo em que vivem permite-lhes usufruir de todo o tipo de experiências – e até atrair algumas que não são de todo bem-vindas. Quem o prova, na verdade, é Teodora (Carla Díaz), a rapariga que John, ligeiramente bêbado, atropela numa noite e que passa a ser a criada deles, ameaçando sorrateiramente a bolha idílica em que vivem.

No início, o filme prende-nos. Todavia, conforme o enredo vai avançando a curiosidade vai diminuindo, porque o ritmo da obra é tão caótico que torna tudo previsível. Neste contexto, a única personagem que se destaca é sem dúvida a criada pela sua desfaçatez muito bem equilibrada com uma (aparente) ingenuidade. Esther e John, o casal da família, apesar de protagonizarem alguns bons momentos falham na maioria do tempo, já que as suas personalidades necessitariam de um desenvolvimento e explanação muito maiores para que nos importássemos de facto com o que lhes acontece a seguir.

A longa-metragem da Netflix parece querer adentrar no subgénero eat the rich, à semelhança de Saltburn (2023), The Menu (2022) ou do incrível Parasite (2019). No entanto, fá-lo a pouco gás – ou a gás nenhum mesmo – ficando-se só pelo querer. A crítica social que tece (se é que pretende tecer alguma crítica) é pouco fundamentada. Aliás, revela-se um tanto fortuita, na medida em que nivela de forma rasa Teodora, os seus amigos e a família alemã, porquanto não se empenha minimamente em desenvolver a história e o caráter das personagens de modo que a luta entre as classes (clara hipérbole para este drama franco-alemão) faça sentido, nomeadamente no desfecho. E, vejamos, visível fortuitidade não abona a favor do subgénero, visto que quando se aborda a temática eat the rich o objetivo é ser-se sobretudo perspicaz e não gratuito.

A banda sonora de Volker Bertelmann, compositor também das soundtracks de Lion (2016) e Conclave (2024), marca passo, acompanhando bem alguns momentos, mas não é excelente. Ademais, a música de mais impacto está além da sua autoria: é Lakmé, Act 1: Viens, Mallika, de Alain Lombard, que com o seu refrão confronta-nos prontamente com a bizarria a que estamos a assistir.

Delicious somente entretém e mesmo esse entreter do espectador nem sempre é bem executado, pois, reitero, o pacing chega mesmo a ser brusco no final, retirando qualquer surpresa que fosse expectável sentirmos quando a reviravolta é finalmente desvendada.

2/5
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