A curta-metragem de animação De Império é a terceira parte de uma trilogia chamada Deconstruction, criada pelo realizador Alessandro Novelli. Juntamente com as obras The Guardian (2015) e Contact (2017), a saga aborda temas relacionados à condição humana e a vida na sociedade de uma forma disruptiva e metafórica. Digo isso pois a narrativa do filme é caótica e diferente do realismo: nele a criatividade e a imaginação imperam.
A audiência acompanha cenas que parecem descontextualizadas umas das outras, mas com dois tipos de personagens e um sistema de governo em comum. Existem as peças geométricas que perambulam pelo espaço, de vez em quando encaixando-se umas nas outras para obter luz própria, e os gigantes que as controlam e oprimem. A normalidade desta hierarquia muda quando uma das pequenas peças se funde com estes titãs, resultando numa quebra da hierarquia e das delimitações entre uma locação e outra para uma nova ordem surgir.
O estilo de traço usado na curta-metragem é semelhante ao que foi popularizado pela série de animação, Adventure Time (2010-2018), onde as personagens possuem rostos e feições arredondadas e corpos alongados, como se fossem de elástico. Esta combinação resulta numa estética que é, ao mesmo tempo, adorável e desconcertante, perfeita para abordar assuntos sérios e complexos dentro da animação. O público consegue apegar-se à aparência fofa dos pequenos blocos geométricos e, simultaneamente, assustar-se quando estes são destruídos e escravizados pelos titãs.
As técnicas utilizadas no processo de produção misturam o tradicional e o digital, usando o 2D, 3D e pinturas com tinta acrílica. Os movimentos são fluidos e naturais, tanto nos momentos calmos como nos mais agitados e violentos; o que ajuda no processo de imersão do espectador na história por não haver ruídos na animação. Além disso, cada personagem possui características únicas que as distinguem umas das outras, demonstrando o nível grandioso de atenção que foi colocada em cada detalhe desta obra. Um destaque tão surpreendente como a qualidade técnica artística no desenho é a banda sonora, que mistura sons imponentes de destruição e desconformidade dentro de situações aparentemente pacíficas.
De Imperio possui uma qualidade técnica grandiosa e criativa, aproveitando o formato de curta-metragem para apresentar uma história pequena mas sem nenhum tipo de gordura ou desnecessidade. Cada detalhe mostrado é um deleite e importante para compreender a narrativa, que pode parecer complexa e sem nexo mas possui uma mensagem importante sobre o ser humano e a sociedade desigual e opressora que nós mesmos ajudamos a construir.