Dark Glasses (2022)

de Pedro Ginja

Dario Argento é um nome que dispensa apresentações para os fãs de terror. É um dos pais do giallo e muitas vezes referenciado como um dos mestres de terror, junto de outros ilustres como George Romero, John Carpenter e Wes Craven. Prolífico nos anos 70′ e 80′ começou, a partir dos anos 90′, a produzir muito menos filmes devido a dificuldades de financiamento e uma menor procura do seu trabalho. 

Recentemente, fruto da homenagem e da reverência de muitos realizadores admiradores do seu trabalho (Gaspar Noé, Quentin Tarantino), encontrou um novo espaço e a possibilidade de retomar a produção de histórias antigas fechadas na gaveta há muitos anos. Daí surge este Dark Glasses (Occhiali Neri), projecto antigo de um giallo que nunca tinha conseguido produzir e, segundo o próprio Argento, “o culminar do seu percurso como autor”.

Um eclipse solar numa tarde quente de verão em Roma serve de pano de fundo para contar a história de Diana (Ilenia Pastorelli), uma jovem acompanhante, que sofre um terrível acidente de viação e perde a visão. Procurando um novo sentido para a sua vida acaba por conhecer Chin (Andrea Zhang), um miúdo envolvido no mesmo acidente, que a protege e passa a ser os “seus olhos” neste mundo novo. No seu encalce está um assassino que ataca prostitutas e escolhe Diana como o seu próximo alvo. Conseguirá ela fugir desta ameaça invisível?

É indiscutível a importância e influência do trabalho de Argento no terror que se faz nos nossos dias, e o seu papel não sai de todo beliscado com este filme mas, por ter estado tanto tempo na gaveta, parece também não ter evoluído com os tempos e com os novos desafios do terror da actualidade. Parece perdido num limbo de série B sem abraçar o lado cómico e os clichês do género e, por vezes, tomando-se por mais sério do que realmente é. Visualmente desilude excepto quando entrega o lado “sanguinário” do verdadeiro giallo e da essência de um terror “sujo” e impactante. Esses momentos são raros e muito espaçados e, infelizmente, intercalam com sequências de acção que roçam o cringe e dão vontade de rir quando não era suposto. 

Ilenia Pastorelli, no papel de Diana, é um dos pontos fortes de Dark Glasses e faz-nos acreditar nesta mulher forte, capaz de superar qualquer obstáculo, mesmo os invisíveis, mas este poder não é reflectido para o restante elenco que aparece a debitar falas nas quais não acreditam e esse sentimento passa para o espectador. A melhor cena é reservada para Nerea, cão guia de Diana, com uma actuação absolutamente deliciosa.

Dario Argento está longe de deslumbrar ou de trazer algo de novo ao panorama do terror na actualidade com este seu novo filme, e seria uma grande pena que este fosse o seu canto de cisne antes de terminar a carreira de realizador. Fazendo figas para que Argento tenha o “fechar de capítulo” que realmente merece.

2/5
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