Numa cidade remota na Argentina, dois irmãos, Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomón), encontram um homem infetado pelo diabo. Decidem livrar-se do problema da melhor forma que sabem, porém acabam por espalhar o caos.
Demián Rugna, que realiza e assina o argumento de Quando o Mal Espreita (título nacional), mostra uma criatividade que não é muito comum de se ver neste género. A história começa de uma forma que nos leva a crer que vai tomar a via comum deste tipo de narrativa, que seria do exorcismo, mas felizmente não é isso que acontece. Não obstante do público ser introduzido à trama de uma forma bastante direta, o realizador usa os problemas apresentados para construir e apresentar a personalidade do protagonista e daqueles que o rodeiam. E é nesta primeira fase do filme que vemos o controlo que há na condução da história, pois, apesar do problema ser apresentado imediatamente, a narrativa não se apressa a chegar ao segundo ato, até porque, para entendermos as ações que serão tomadas, precisamos de conhecer primeiro o ambiente existente. Os obstáculos vão surgindo gradativamente, ao contrário do desespero que, neste caso, sobe como uma flecha.
Falando um pouco da nossa personagem principal, Pedro mostra-se com o coração no lugar aparentemente certo, mas algumas das suas interações com aqueles que o rodeiam, nomeadamente com a sua ex-esposa, servem tanto para dar camadas à personagem como também para acentuar o realismo deste mundo. Quase como se houvesse mais vida além da duração do filme. A realização é também meticulosa com os momentos em que escolhe chocar o público. É o clássico “poucos, mas bons”, e mostra-se o suficiente, na medida em que uma pessoa demora tanto a recuperar de um susto que, quando dá por ela, já tem que lidar com outro choque, o que também acaba por justificar algumas atitudes que as personagens tomam de impulso, e que podem não ser as mais acertadas.
A ameaça é apresentada de um jeito nojento e original. É um caso em que algo de repugnante aparece, mas não conseguimos desviar o olhar. Muito devido ao trabalho excelente do realizador que, com o baixo orçamento e sem poder dar ao luxo de grandes efeitos, usa bastante o efeito da sugestão como forma de construir a curiosidade e a ansiedade em torno dessas cenas.
O único revés encontra-se no seu terceiro ato. Parece que o argumento fica num beco sem saída e não tenta procurar uma solução, usando o clássico recurso da personagem que sabe tudo e que dá uma enorme exposição sobre como derrotar tal entidade. E, apesar de no segundo ato ser possível perdoar algumas atitudes estranhas das personagens, nesta conclusão já não é, pois entre os dois atos existe um desacelerar enorme do ritmo da narrativa que faz com que haja tempo para toda a gente raciocinar e compreender aquilo com que está a lidar, até tendo em conta as interações que existem até chegar ao clímax.
Cuando Acecha la Maldad é um bom filme que sabe trabalhar com as suas limitações e contornar os clichés através do uso do choque e do fator psicológico. É pena o final que não chega a ser mau, mas decepcionante.