Companion (2025)

de Lara Santos

“Find someone made just for you.”

Companion é a estreia de Drew Hancock como realizador e foi produzido pela equipa por detrás do sucesso de terror Barbarian (2022). As semelhanças são evidentes no que toca à forma como o enredo de ambos toma um rumo completamente diferente do inicialmente estabelecido, o que é sempre algo entusiasmante de assistir e torna a experiência de visualização bastante divertida. Porém, também graças ao seu trailer revelador, Companion é quase “à prova de spoilers”, na medida em que se mascara numa determinada premissa inicial, quase de forma irónica e cómica, acabando por ser tão transparente com as suas pistas sobre a realidade que estas começam a parecer piadas.

Este sci-fi/thriller de terrorsegue a história de Iris (Sophie Tatcher), profundamente apaixonada pelo seu namorado Josh (Jack Quaid) e constantemente a sonhar com o seu meet-cute perfeito vindo diretamente de uma comédia romântica. O casal viaja para uma remota e luxuosa casa no lago para passar o fim de semana com os amigos de Josh: Kat (Megan Suri), que não é particularmente fã de Iris, o adorável casal Eli (Harvey Guillén) e Patrick (Lukas Gage), e o excêntrico e rico namorado de Kat, Sergey (Rupert Friend), o dono da casa. Quando Sergey demonstra um interesse indesejado por Iris, a viagem romântica e pacífica toma proporções violentas e inesperadas.

É um facto que quando um filme tem alguma mensagem mais profunda para expressar, equilibrar o “expor demasiado” pintando a audiência como não sendo capaz de pensar por si mesma com o ser demasiado subliminar e acabar por se perder na sua própria moral, parece ser uma tarefa difícil. No entanto, Companion alcança o ponto ideal, pois comunica a sua crítica social de forma subentendida mas não excessivamente. Incita perfeitamente a conversa necessária sobre como a IA e a evolução tecnológica podem afetar a nossa humanidade e manipular a noção que temos a respeito de relações interpessoais (o problema não é necessariamente a tecnologia, mas sim quem a utiliza e como) aliado ao seu teor feminista no que toca a relacionamentos tóxicos e à forma como alguns homens ainda veem e controlam as mulheres. Ou seja, encontrar o amor é complicado, portanto porque não “comercializá-lo” tornando a tarefa mais fácil?

Posto isto, Companian é necessário e aborda temas morais cruciais, mas fá-lo de um modo cómico e leve, resultando numa combinação de diferentes tons para que a audiência encare a história a sério e simultaneamente não sinta que a leveza do filme seja incongruente. Deste modo, Hancock tenta equilibrar os aspetos de uma comédia romântica com os de um thriller inquietante e os elementos visuais de um filme de terror, sem deixar os sentimentos de amor e traição perderem-se pelo meio. No geral o objetivo é alcançado, por vezes sabe bem ver algo mais divertido e fácil de digerir, mas talvez se o filme transmitisse uma maior intensidade e se puxasse mais ainda os limites do terror em si, teria sido mais impactante a longo prazo.

As performances são também essenciais para atingir essa finalidade, pelo que o filme apresenta um ensemble em que cada membro do elenco parece ter nascido para interpretar a sua respetiva personagem, sendo o claro destaque de Sophie Tatcher, que cada vez mais se revela como uma nova scream queen, seguida de Jack Quaid. Tatcher faz um trabalho fantástico ao tornar Iris na heroína e numa personagem totalmente realizada com a profundidade das suas emoções, revelando a versatilidade da atriz tendo em conta a intriga da obra. Quaid traz uma atuação cativante, dando vida a uma personagem emocional e multifacetada que consegue comandar a direção do filme: quando pende para a comédia, o tom de Companion ligeira e, contrariamente, quando pende para a seriedade, o tom do filme escurece.

Assim, em última instância, Companion é um filme que pretende entreter e surpreender, mas não tem grande interesse em tentar ser mais inteligente que a sua audiência ou, consequentemente, pretensioso. Simplesmente oferece uma exploração catártica e satírica da dinâmica de poder em relacionamentos, com um elemento de sci-fi original e alguns momentos mais inquietantes, que ultimamente promete um tempo bem passado. Talvez seja um potencial sucesso inesperado que desmente a reputação do mês de janeiro como um depósito de lixo, onde os estúdios enviam os filmes para morrer, e marca o realizador Drew Hancock como um talento a ser observado.

3.5/5
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