Cobweb (2023)

de Pedro Ginja

Peter (Woody Norman) é um miúdo com dificuldades de adaptação na escola. A professora Devine (Cleopatra Coleman), depois de alguns conflitos de Peter com os seus colegas e um desenho perturbador, decide ir falar com os pais. Tanto o pai (Antony Starr – o inesquecível Homelander na série The Boys (2019-2023)) como a mãe (Lizzy Caplan) atribuem os problemas à sua imaginação fértil; uma imaginação que leva Peter a ouvir barulhos vindos de dentro das paredes de casa. Com o tempo, essas ocorrências se tornam cada vez mais comuns e reais. Será mesmo a sua imaginação ou as paredes escondem algo no seu interior?

Estarão os pais a esconder alguma coisa? Poderá haver alguma maldição antiga na casa? Estará um dos membros da família possuído por uma entidade malévola? Ou talvez sejam reflexos de maus tratos parentais? São muitas as questões colocadas pelo argumento durante o filme e esse é o seu ponto mais forte, pelo menos na sua primeira metade. Durante este período de incerteza, a dúvida instala-se no espectador e as possibilidades são infinitas. Este construir de um puzzle com diversos caminhos possíveis revela-se inteligente por permitir que a nossa imaginação entre em overdrive a tentar ligar as pistas e perceber em que terreno realmente pisamos. É nesse ambiente que surgem momentos inspirados em termos de cinematografia e de mistura de som. Uma cena em particular, com um movimento de câmara fenomenal e uma conclusão inesperada, impressiona pela originalidade.

Infelizmente é impossível suster este nível elevado para além da primeira metade do filme, altura em que as fragilidades começam a saltar à vista. Tudo começa no casting de Woody Norman, no papel de Peter, que surge razoável, na introdução da personagem, mas revela uma incapacidade crónica de despertar emoções no espectador quando a tensão aumenta. A epitome de um herói é a sua capacidade de nos fazer importar com o seu destino e aqui isso nunca se sente. O mesmo acontece com a personagem de Cleopatra Coleman, cujas motivações são incompreensíveis e pouco realistas – O arco de professora substituta do início transformada em guerreira na conclusão da história é de levar as mãos à cabeça. A culpa não pode cair apenas em Cleopatra Coleman, que nunca é menos que competente, mas pouco pode fazer com a personagem unidimensional que lhe é imposta pelo argumento. Melhor sorte têm Lizzy Caplan no papel de Carol, a mãe de Peter, com um papel convincente sempre no limiar do desespero e do controlo das emoções, assente no uso subtil de expressões faciais e de quebras na voz que reforçam essa ideia. E, claro, Antony Starr (nunca desaponta) no papel de Mark, o pai, por combinar carisma e vilania com a mesma expressão ou olhar fulminante. Recorda a icónica personagem de Robert Mitchum em The Night of the Hunter (1955), não pela história em si mas pelo impacto emocional que provoca em quem o enfrenta e o seu carácter implacável de levar a sua avante.

Cobweb tinha tudo para ser um clássico do género de terror, com um set-up inteligente que nos deixa num sentimento de incerteza, tensão e medo constante, mas acaba por descambar, como um castelo de cartas, quando opta por um dos caminhos carregado de lugares comuns do terror “made in Holywood”. Valha-nos Lizzy Caplan e Antony Starr para manter esta produção à tona de água.

2.5/5
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