Cidade Rabat (2023)

de Pedro Ginja

Susana Nobre está de regresso após o bem recebido No Táxi de Jack (2021), um dos premiados do IndieLisboa como melhor filme português no ano de 2021. Dois anos depois, e do documentário para a ficção, chegamos a este Cidade Rabat, que acompanha Helena (Laura Afonso), uma mulher na casa dos 40, que trabalha numa produtora de filmes. A história centra-se no seu dia-a-dia até que um evento traumático a leva a repensar o caminho da sua vida.

Os primeiros minutos do filme apresentam uma mulher “presa” num aparente repetir de rotinas e de acções. Caímos logo nessa sensação, tão familiar a todos nós, de estarmos aborrecidos, sem energia e sem vontade de mudar o status quo. Os seus olhos inexpressivos, sem chama retratam isso mesmo, de uma forma assertiva. Todo o argumento assenta sobre Helena, que não revela qualquer tipo de emoção, mas mesmo assim consegue suster a nossa atenção. O problema maior é contracenar com um elenco de secundários que parecem anestesiados e sem qualquer capacidade de passar emoção ou sentimentos. Isto revela pouco cuidado com o casting e acaba por distrair da personagem principal e do seu percurso.

A fotografia é competente e acompanha o argumento da melhor maneira mas nada tem de especial para nos prender o olhar. O mesmo se passa com a cenografia, o trabalho de som e a música quase inexistente, para além da que faz parte da narrativa. O naturalismo mora aqui e com orgulho. Os pontos fortes de Cidade Rabat assentam no argumento, e o percurso de Helena na sua própria história. Aborda o trabalho de apoio social, de uma perspectiva diferente do habitual, e abre os horizontes a quem não conhece o impacto que isto tem na vida de tanta gente. Helena acaba por fazer o trabalho comunitário num local familiar e é a partir daqui que conhecemos o seu verdadeiro eu nas interacções com os habitantes, onde está a produzir um filme, e nas relações que lá cria. O verdadeiro charme da história, no entanto, assenta no facto de não existirem antagonistas. Apenas vemos a vida acontecer, de forma natural, com os pontos altos, os pontos baixos, os erros e as pequenas vitórias. Aparenta, por vezes, ser um documentário de um de nós, espectadores, na rotina normal do dia-a-dia e nessa altura somos também a Helena.

Cidade Rabat termina sem deslumbrar, ou trazer algo de novo ao panorama cinematográfico português, mas é um retrato importante do impacto que cada um de nós pode ter numa vida de rotina, e em tornar os nossos erros em vitórias para o bem dos outros.

2.5/5
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