Foi amplamente publicitado, quando Causeway viu finalmente a luz do dia, que o mesmo marcava um regresso para Jennifer Lawrence. Não que esta tenha andado particularmente afastada dos ecrãs, mas não a víamos numa produção desta dimensão desde que explodiu para o estrelato em 2009 com Winter’s Bone.
A atriz aparece aqui como Lynsey, militar americana devolvida a casa devido a uma lesão cerebral grave causada por um explosivo, mas da qual pretende recuperar em contrarrelógio para poder voltar ao Afeganistão, como se o lar que partilha com a mãe fosse um campo de batalha mais letal que o Médio Oriente. Enquanto trabalha a limpar piscinas, encontra em James (Brian Tyree Henry), o mecânico onde deixa a sua carrinha, um amigo inesperado com um passado tão brutal como o dela.
Causeway é um filme a duas mãos, apesar da centralidade de Lawrence. Lynsey é um poço de silêncios, que inicialmente aparenta ser devido aos estragos causados pelo incidente que a colocou em reabilitação, mas com o passar dos minutos, cada vez se vai tornando mais aparente que a apatia de Lynsey, o constante ar desligado e introspetivo, enquanto olha para o vazio e processa aquilo que lhe é dito, parece ser resultado de algo que a fez alistar-se no exército e não algo que trouxe de volta com ela. É através de James que começamos a penetrar a quietude desta. Ambos partilham passados incorrigíveis, uma incompletude e desassossego que ficam vincadas através de duas performances brilhantes de Henry e Lawrence que se complementam de forma sincera, os dois a habituar personagens que vasculham o quotidiano dos subúrbios de Nova Orleães à procura de algo que já não pode existir.
São trazidos à vida pela realização da estreante Lila Neugebauer, segura e de contenção, não deixando uma linha de diálogo desnecessária arruinar momentos que funcionam com esparsas palavras, e abrilhantando a frieza da vida de Lynsey através da branquitude e nebulosa fotografia com a câmara de Diego García. Mesmo assim não consegue elevar Causeway a mais do que um filme carregado por duas interpretações brilhantes. No seu desenlace precisava de adicionar as palavras que tinha poupado até então, ficando a sensação que a jornada, seja de a de Lynsey, seja a de James, foi deixada a meio caminho e com alguns capítulos perdidos pelo trilho, capítulos esses que podiam ajudar a dar mais corpo a um guião que mostra restrição mas a quem se pedia um pouco mais de finalidade.
Ainda assim, Jennifer Lawrence e Brian Tyree Henry são duas razões mais do que suficientes para procurar Causeway, que apesar de não chegar ao seu termo de forma apta, apresenta dois atores na sua melhor forma em duas personagens que se mantém incessantemente densas ao longo dos 90 minutos.