O infame Josh Trank. Digo “infame” porque este é o menino que não sabia que se fosse fazer um filme de estúdio como Fantastic Four, nunca teria toda a liberdade artística que quisesse, não gostou muito e enfrentou a situação da forma mais adulta possível: apareceu bêbado nas filmagens. Logo aí percebe-se que há uma imaturidade inerente a Trank, que é mais do que aparente em Capone.
Al Capone foi o expoente máximo da Máfia italo-americana das décadas de 20 e 30. Foi preso em 1931 por evasão fiscal e condenado a 11 anos de prisão. É libertado 8 anos depois, com a sua saúde num estado de degradação alarmante com origem na sífilis que contraiu aos 15 anos. Debilitado, inválido e demente, Capone segue o último ano de vida do criminoso mais influente e perigoso da Era da Lei Seca Americana.
Nunca pensei viver uma pandemia mundial. Nunca pensei que o Taraabt fosse fazer alguma coisa no Benfica. Também nunca pensei ver o Tom Hardy a fazer um mau trabalho. É para verem que a vida está realmente cheia de surpresas.
Roger Ebert dizia que tendia a não ser muito duro com os atores, porque por norma acabavam por ser mais vítimas do guião e do realizador do que propriamente os responsáveis pelo mau trabalho. No entanto e sendo que Hardy já vem há uns anos a tentar representar Al Capone, cheira-me que desta vez as culpas também estejam parcialmente nele.
Já sabemos que a estrela de Taboo (2017-) consegue roçar aquela linha ténue da caricatura dos seus personagens, sem nunca chegar a tombar para o lado do rídiculo. Bem, em Capone ele não só cruza essa linha, como cospe, vomita e defeca em cima dela numa espécie de heptatlo de necessidades fisiológicas cinematográfico. É uma atuação grotesca completa, uma personagem impossível de levar a sério porque é impossível esquecer que estou a ver Tom Hardy a fazer figuras tristes e não um ator a fazer de Al Capone.
Vou voltar ao início. O grande inimigo de Josh Trank é Josh Trank. Porque o filme, também ele escrito e montado – e já lá vamos –, não parece ter qualquer tipo de finalidade além de mostrar uma pessoa demente, senil e humilhada vezes e vezes sem conta durante 100 minutos de tragédia. O propósito de colocar uma pessoa com um passado violento, a enfrentar os seus atos de crueldade enquanto o seu fim de aproxima, perde-se completamente numa sucessão de cenas pouco coerentes e com uma gritante falta de sensibilidade para o tema que está a retratar.
Isto porque, a forma como muitas das cenas são montadas – lá está, por Josh Trank – dão-lhes um ar desagradavelmente cómico. Está-se a tentar fazer humor com situações extremamente humilhantes para qualquer ser humano e sem qualquer tipo de tacto para as mesmas. Pode haver pessoas que vão tirar algumas gargalhadas disto, e se o fizerem, ótimo, mas acho que o tom do filme não está minimamente ajustado a tal e a única coisa que passa é a imaturidade de Trank a vir ao de cima. Pior ainda quando todo o filme não tem um propósito de existir desta forma sendo que ninguém tem motivações interessantes, desenvolvimento ou relevância. Não, tudo é a adorno à volta de um Tom Hardy coberto de urina e charutos. Mas o resto do elenco, especialmente Linda Cardelinni, é bastante decente, ao menos isso.
Oco, sem objetivos e pontualmente ofensivo, a única certeza que Capone traz, é que Josh Trank, embora tenha algumas qualidades como realizador, não tem a sensibilidade ou a maturidade necessária para lidar com temas deste tipo. O seu nicho é histórias em que os putos são tão imaturos como ele, só que têm super-poderes, e talvez seja nesse registo que tem de se manter com esta mentalidade.