Blue Ruin (2013)

de Janai Reis

A Vingança em tons Complementares

Dwight Evans, um ex-presidiário com o olhar carregado de fantasmas, regressa à sua terra natal. A sua missão é vingar a morte do seu pai, brutalmente assassinado por um membro da família Cleland. Sem qualquer experiência ou treino formal em combate, Dwight embarca numa jornada de vingança confrontando os Cleland e procurando fazer justiça pelas próprias mãos. Blue Ruin é um thriller psicológico que constrói um ambiente tenso e perturbador, mergulhando numa exploração complexa e matizada deste jogo da retaliação e equidade.

Contudo não se pode descrever a narrativa de forma tão simples, pois o filme traz subtilezas carregadas de uma montanha-russa de emoções que passam da profunda tristeza de Dwight para a sua raiva explosiva que procura alimentar a sua fome de carnificina. A violência que o filme nos mostra não só é visual e física como emocional. A destruição persegue o seu ente da mesma forma que este persegue a vingança. Este é mais uma história bem contada de como a vingança pode transformar as pessoas em criatura monstruosas, não de forma repentina, mas lenta e dolorosa.

A dar vida ao personagem principal temos Macon Blair que entrega uma performance brutal.  É sem dúvida uma grande força do filme tendo em conta que a sua fisicalidade frágil contrasta muito bem com a força e determinação dando assim lugar a uma área cinzenta para ser explorada pelo espectador. É nos passos hesitantes do percurso de Dwight que sentimos a sua vulnerabilidade – e por consequência a nossa – e a sua obsessão pela busca de uma justiça pessoal.

E por falar em contrastes, outro ponto que carrega bem este filme independente, é a fotografia. A atmosfera maioritariamente fria do filme cria uma palete de cores que nos transporta para o lugar sensorial do desconforto sóbrio e melancólico que o universo carrega. A própria iluminação parece esconder os seus próprios segredos de forma semelhante à narrativa. Dos altos e baixos – das cores quentes a cores frias – o personagem vai caindo em ruína. O Azul é realmente a palavra-chave para decifrar o filme. A certa altura Dwight procura o seu amigo Ben na sua casa antiga. Ao identificar-se para ser reconhecido pela mãe do Bem ele diz que se chama Dwight “… de Orange High”. Curioso pensar que a cor laranja é “alta” e a cor “azul” é a ruína. Este contraste está por toda a parte no filme, não só na fotografia como referi, mas também em toda a direção de arte.

O ritmo pode ser um pouco desafiante pois esta hora e meia de filme não passa tão rápido como parece. Talvez também por o único personagem desenvolvido ser o principal ou por o filme poder ser em certa parte previsível, torna o filme mais lento. Ainda assim Blue Ruin é um filme que traz uma experiência cinematográfica memorável com questões sobre a natureza humana e a forma como aceitamos a dor – que sempre volta pela sombra e que um dia teremos de a contemplar. (António Sousa, Estranho Conhecido, 2022)

4/5
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Rebel Ridge (2024) - Fio Condutor 22 de Setembro, 2024 - 22:33

[…] com aquilo que nos apresentou no início da carreira com a agressividade e violência de Blue Ruin (2013) e especialmente Green Room (2015). A comparação fácil com First Blood (1982) é perfeitamente […]

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