BlackBerry acompanha a ascensão meteórica do primeiro smartphone – o BlackBerry – e a sua queda vertiginosa através dos olhos dos seus fundadores, Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Jim Balsillie (Glenn Howerton).
É um retrato fidedigno da história e evolução dos telemóveis num período de importantes avanços tecnológicos que mudaram a nossa relação com o mundo e como interagimos com ele. Para os que viveram esse período (Final dos anos 90 e início dos 2000) o sentimento de nostalgia será, por vezes, avassalador devido ao inspirado design sonoro e ao uso do barulho específico da estática como um tema recorrente e um importantíssimo motor da narrativa.
É, para além da história do BlackBerry, um filme sobre Mike Lazaridis e a sua evolução de um homem de valores inabaláveis para outro que abandona tudo o que o caracteriza como pessoa. Jay Baruchel encarna Mike Lazaridis, na sua essência, e a mudança faz-se no olhar e no crescente desespero na voz, que parece ir quebrando à medida que escava um fosso cada vez mais profundo. Glenn Howerton é impressionante, com um retrato fiel de um “tubarão” da bolsa no final da sua década de ouro, mas não tem tanto espaço para mostrar outras facetas para além da sua incomensurável ambição. Surge ainda Michael Ironside no papel de Purdy, roubando cenas nos breves minutos que passa no ecrã.
O argumento apresenta uma estrutura clássica linear no tempo e na criação das personagens e consegue infundir, na história, um ritmo equilibrado em que mistura comédia, drama e uma clássica tragédia grega, na qual existem paralelos com a história de Icarus e a vontade de quebrar limites para além da capacidade de os ultrapassar. No final fica o silêncio, de um homem perdido na “estática” da vida, e no sol que tentou alcançar. E era por aqui que deveria ter ficado, para elevar o filme a um outro patamar, mas acaba por não resistir a demasiadas explicações e à necessidade de fechar todas as “pontas soltas”. Uma decisão infeliz mas que não retira o factor entretenimento da equação.
