Black Adam (2022)

de Guilherme Teixeira

Cinco mil anos depois de receber os seus poderes e ser aprisionado, Black Adam (Dwayne Johnson) é libertado do seu túmulo, preparado para espalhar a sua ideia de justiça no mundo moderno. Jaume Collet-Serra ficou a cargo da realização deste filme que já andava de gaveta em gaveta há mais de 10 anos. Mas será que a espera valeu a pena?

Black Adam abre com promessa, exibindo um ótimo trabalho na contextualização da mitologia base da história através de uma narração que, apesar de ser normalmente usada como um recurso preguiçoso para estabelecer pontos narrativos, consegue criar um interesse contínuo e vivo, sem esgotar o sumo todo no início, deixando algumas peças soltas para serem completadas no decorrer do filme.

As sequências de ação desta nova obra da DC são bastante bem executadas, abusando de planos abertos para o espectador conseguir ver tudo o que está realmente a acontecer. Até mesmo os ângulos mais fechados ou os movimentos de câmara mais tremidos, são feitos de forma a criar uma sensação de maior tensão e perigosidade.

Dwayne “The Rock” Johnson, está ótimo como Black Adam. Claramente um papel que extrai todo o seu carisma aliando o seu humor característico, aqui funcionando quase como uma inversão pois o seu personagem é de poucas palavras, com a sua estrutura física imponente. Através da sua brutalidade (que podia ter sido levada além) e heroísmo, o ator consegue convencer as audiências de estarem perante um verdadeiro anti-herói.

Black Adam também propõe uma discussão interessante acerca das diferenças entre os métodos dos anti-heróis e dos heróis. Assim que o grupo de super-heróis conhecido como “Sociedade da Justiça” entra em ação, para travar o protagonista, inicia-se um conflito de ideais através das batalhas entre Black Adam e Hawkman (Aldis Hodge), com a mediação de Doctor Fate (Pierce Brosnan), provavelmente a personagem secundária mais interessante do filme, que trabalha como uma ponte entre os dois dogmas em conflito.

Porém, a palavra “propõe” não é por acaso, pois um dos maiores problemas desta longa-metragem é o facto do argumento ser demasiado básico e ficar-se demasiado pelas propostas, sem aprofundar nada nem ninguém para além do protagonista e os membros da “Sociedade da Justiça”, e mesmo neste grupo nem todos aproveitam dessa exploração, servindo mais como um escape humorístico que acrescenta pouco ou nada à história.

O vilão, Ishmael (Marwan Kenzari), apesar de eficaz, não deixa de ser um personagem com uma motivação genérica. Um antagonista afetado pela realização que não soube gerir as prioridades da narrativa, focando demasiado tempo nas disputas entre Black Adam e Hawkman que, apesar de serem bem coreografadas e de não perderem a atenção da audiência, acabam por ser repetidas até à exaustão, fazendo com que o arco do vilão seja apressado e previsível.

A realização também demonstra outros aspetos subdesenvolvidos como o mundo da comunidade dentro desta história, pois os visuais criam a sensação destes eventos todos acontecerem em apenas uma rua, o que seria estranho para o argumento geral do filme. Por outro lado, o facto da história ser localizada em poucos espaços, acaba por tornar a narrativa um pouco mais intimista, evitando perder-se em demasiadas localizações que pouco se justificariam para além dos benefícios fiscais que os países concedem aos estúdios para filmarem nesses espaços.

Bodhi Sabongui, que dá vida a Amon, faz um trabalho relativamente competente a traduzir a esperança que aquele povo tem na figura de Black Adam, como um herói para os libertar, porém a sua inexperiência faz-se notar, nomeadamente no clímax do filme; o que é capaz de ser dos piores momentos para tal acontecer. Este comentário negativo não é em relação ao jovem, mas ao realizador e à sua direção dos atores.

Black Adam é um filme que entrega um The Rock mais carismático que nunca, carregando temáticas interessantes, como o confronto não só literal, mas moral entre anti-heróis e super-heróis, a linha ténue que separa o mal do mal necessário e a sua relevância, ou, neste caso, a falta dela, para povos que vivem sobre opressão e que só procuram a liberdade. Peca pelo facto destes temas ficarem extremamente subdesenvolvidos com respostas para lá de simplistas.

3/5
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